Artigo
100 Melhores Ongs Do Brasil
As 100 melhores ONGs do Brasil
ÉPOCA e o Instituto Doar apresentam a primeira lista das organizações com mais eficiência, qualidade de gestão, transparência e boa governança do Brasil
MARIANA QUEIROZ BARBOZA
11/08/2017 - 19h37 - Atualizado 11/08/2017 19h37
OPORTUNIDADE Elvis da Silva, de 23 anos, odiava a escola até conhecer a Vocação. Hoje trabalha como educador social na periferia de São Paulo (Foto: Anna Carolina Negri/ÉPOCA)
A sala com dezenas de funcionários concentrados em computadores e divididos por áreas, com luz fria, ar-condicionado e grandes mesas sinuosas decoradas com brindes diversos, como calendários e chaveiros, poderia ser de qualquer empresa não fosse por um detalhe. Num canto, cinco pessoas se revezam entre pegar um cupom de Nota Fiscal Paulista, programa do governo de São Paulo que devolve aos consumidores até 20% do imposto cobrado sobre serviços e mercadorias, e digitar alguns números na tela. Assim, manualmente, elas contabilizam os cupons deixados por clientes de 1.500 lojas, supermercados e restaurantes em prol da ONG Ação Comunitária do Brasil, ou simplesmente Vocação. De trocado em trocado, recolheram R$ 2,9 milhões no ano passado e ajudaram a mudar a vida de ao menos 12.448 jovens que foram beneficiados pelos programas de formação socioeducativa da ONG. A Vocação repassa dinheiro a entidades menores que focam em mostrar às crianças e aos adolescentes carentes da periferia de São Paulo que eles podem ser protagonistas de suas próprias vidas. Isso acontece via formação de educadores, distribuição de material didático, desenvolvimento de novas metodologias de aprendizagem e cidadania, capacitação de lideranças comunitárias e inserção de jovens no mercado de trabalho de maneira digna.
ATENDIMENTO PRECOCE Ana Paula Dias, de 25 anos, frequenta a Apae Anápolis, em Goiás, desde que Heloísa, de 2 anos, tinha 3 meses (Foto: Sérgio Lima/ÉPOCA)
Habilidade para negociar doações virou a especialidade do advogado Hélio José Lopes, presidente da Apae de Anápolis, a 60 quilômetros de Goiânia, e referência em Goiás no atendimento a pessoas com deficiência física e intelectual. No dia a dia, Lopes divide as demandas de seu escritório de advocacia com reuniões com empresários e autoridades para propor patrocínios de eventos da Apae. “Onde encontro a porta aberta, faço parcerias e depois presto contas”, diz. Recentemente, esteve no fórum da cidade para um encontro com um promotor. Levou as notas fiscais para comprovar o uso de R$ 23 mil que a Apae havia ganhado após o Ministério Público ter determinado que um réu doasse à instituição. “O promotor era novo e disse que eu não precisava fazer isso”, afirma Lopes. “Mas é um hábito necessário.” Quando se fala em transparência no Terceiro Setor, é preciso falar da maneira como as ONGs prestam contas. Não basta divulgar o balanço financeiro se poucas pessoas conseguem decifrá-lo. Instituições com atuação internacional, como a ActionAid, estão acostumadas a se comunicar com a sociedade de maneira clara e direta. No Brasil, a entidade convoca os doadores a mudar a vida de crianças, apadrinhando-as com pouco mais de R$ 1,50 por dia. “Isso dá medidas para que o doador entenda com facilidade para onde vai o dinheiro dele”, diz Paula Fabiani, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis).
CICLO Laíse de Oliveira virou voluntária da Casa Durval Paiva depois que sua filha Gabriele, de 10 anos, superou o câncer (Foto: Pablo Pinheiro/ÉPOCA)
Depois da captação de recursos, o segundo grande desafio das ONGs é medir seu impacto. Em Natal, a Casa Durval Paiva de Apoio à Criança com Câncer está prestes a fazer uma pequena revolução nesse sentido. A entidade deve lançar, nas próximas semanas, um aplicativo de celular que servirá como um novo canal para divulgar suas ações e eventos e para a doação. “As pessoas ajudam quando conhecem e acreditam num projeto e acabam se tornando um pouco responsáveis por ele”, diz Rilder Campos, presidente da instituição. Em tempos de Lava Jato e troca instantânea de informações via redes sociais, a desconfiança nas ONGs segue um movimento de descrédito generalizado. A última pesquisa do Trust Barometer, que a agência Edelman Significa divulgou no Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro, mostrou queda na confiança das quatro grandes instituições – empresas, governo, ONGs e mídia – no mundo todo, inclusive no Brasil. Por aqui, como em outros dez países, elas têm menos credibilidade que as empresas. Além disso, a percepção ruim de organizações ligadas a políticos acaba desidratando o setor como um todo no país. A falta de confiança, no entanto, não é o único motivo para que algumas pessoas evitem doar. Num estudo organizado pelo Idis em 2015 sobre o perfil do doador brasileiro, ao lado da falta de dinheiro, apareceu o argumento de que a resolução de problemas sociais é responsabilidade do governo. Isso expõe a visão latino-americana de um Estado paternalista, capaz de prover tudo o que a população necessita – em oposição à cultura anglo-saxã, em que as comunidades se mobilizam para resolver seus próprios problemas. Na origem de algumas ONGs, histórias pessoais tristes se transformam em semente para ajudar o próximo e a si mesmo. A professora Tatiana Piccardi deu início à Associação Helena Piccardi de Andrade Silva (Ahpas) em 1999, após a perda da filha, Helena, vítima de câncer aos 5 anos de idade. “Durante o tratamento, eu só tinha olhos para minha filha, mas depois pensei em como era dura essa rotina de hospital”, diz. Foi quando surgiu a ideia de fundar um projeto bem paulistano numa cidade de longas distâncias e tão dependente do automóvel. Um mapa de São Paulo na sala da Ahpas mostra as rotas que os veículos da ONG fazem para levar 42 crianças carentes da periferia até os hospitais onde são atendidas na luta contra o câncer. O bom trabalho não vem de hoje. Em 2007, a Ahpas foi finalista do Projeto Generosidade, promovido pela Editora Globo (que ÉPOCA). A Amigos do Bem, que, naquele ano, ganhou o incentivo de R$ 100 mil, também aparece no guia de agora.
ACOLHIMENTO No Pequeno Cotolengo, em Curitiba, pessoas com deficiência múltipla vencem o abandono (Foto: Guilherme Pupo/ÉPOCA)
A cultura da filantropia, no Brasil, está muito ligada à fé. Historicamente, o país tem fortes ONGs ligadas a grupos religiosos. A Pequeno Cotolengo, de Curitiba, foi fundada nos anos 1960 pelo padre italiano Luís Orione (santificado em 2004). A instituição atende cerca de 200 pessoas com múltiplas deficiências e em situação de abandono. Hoje, a principal captação de doações ocorre na central de telemarketing da ONG, que emprega 75 funcionários treinados para, em poucos minutos, apresentar o trabalho realizado e pedir uma contribuição. O esforço encontra cerca de 16 mil paranaenses todos os meses, que doam, em média, R$ 25,67. “É histórico que o Estado abandona muitos de seus e a Igreja os acolhe”, diz o padre Reinaldo Lopes, diretor-presidente da ONG. “A Igreja vive para isso, não só para a catequese.” A sociedade mais frequentemente citada como bom exemplo de cultura de filantropia é a americana. Nos Estados Unidos, o incentivo não vem só do governo, com deduções do Imposto de Renda e legislação favorável à criação de novas entidades, mas também das empresas, seguindo a lógica de que uma sociedade civil robusta é parte fundamental da democracia. Por isso, uma estratégia comum de grandes companhias americanas é facilitar a doação de funcionários, descontando uma percentagem da folha salarial dos interessados. Algumas doam também US$ 1 a cada dólar que sai nesse processo. Outras dão folgas remuneradas para que seus empregados se dediquem a trabalho voluntário. Há várias maneiras de se envolver com o Terceiro Setor. Segundo o psicólogo Mark Snyder, da Universidade de Minnesota, cada vez mais grandes organizações formalmente estruturadas estão sendo auxiliadas por pequenos grupos de base, como vizinhos que se ajudam mutuamente. “Além disso, num mundo de mídias sociais, muitos voluntários passaram para a internet e ajudam outras pessoas on-line, por exemplo, fornecendo informações em enciclopédias on-line e em sites de perguntas e respostas”, afirma. No Brasil, o surgimento recente de pequenos coletivos interessados em lutar por questões caras a determinados grupos de pessoas mostra fôlego novo na busca por protagonismo social. “Apesar de, nos últimos dez anos, ter havido intenso reconhecimento da necessidade de profissionalização do Terceiro Setor, os líderes de muitas organizações resistem em compreender que a profissionalização não é perversa”, diz Aracélia Costa, superintendente da Apae de São Paulo. “Ela é aliada da causa.” Segundo a gestora, há ainda grande preconceito de ongueiros em aplicar ferramentas e métodos desenvolvidos nas empresas, como políticas de gestão de pessoas, processo de seleção para vagas remuneradas, avaliação de desempenho, plano de trabalho inclusive para voluntários e estabelecimento de metas anuais. Atualmente o Terceiro Setor emprega mais de 2 milhões de trabalhadores de maneira formal. “Por mais que as ONGs se profissionalizem, ter uma base de voluntários é fundamental”, diz Fernando Nogueira, do Instituto Doar. “No dia em que as ONGs virarem empresas, as pessoas não estarão lá porque acreditam na causa, querem proteger o meio ambiente ou ajudar a construir um mundo melhor. Estarão lá por uma relação de consumo, e não é isso que desejamos.”
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