Artigo
A Crise Na Venezuela - A Imigração Para O Brasil
Venezuelanos atravessam o Brasil e sobrevivem com caronas e doações O Profissão Repórter acompanhou uma família em uma jornada de cinco mil quilômetros até São Paulo. Eles fazem parte dos 800 venezuelanos que cruzam diariamente a fronteira com o Brasil. Cerca de 800 venezuelanos cruzam todos os dias a fronteira com o Brasil, fugindo da crise de desabastecimento que enfrenta a Venezuela. O Profissão Repórter acompanhou uma família em uma jornada de cinco mil quilômetros até São Paulo. Foram cinco semanas de viagem até que mãe, pai e filha de apenas quatro anos conseguissem cruzar o país sem recursos, sobrevivendo apenas de caronas e doações. Três milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos cinco anos e 200 mil vieram para o Brasil. O controle migratório do lado brasileiro é feito em Pacaraima, Roraima, a primeira cidade brasileira depois da fronteira. É lá que muitos venezuelanos esperam uma carona. Duzentos quilômetros separam os venezuelanos que chegam pela fronteira da cidade de Boa Vista, capital de Roraima. O estado pediu ajuda federal para direcionar os refugiados a outros estados do país. A jornada de uma família Jesus, Daniela e a filha Samanta são três desses refugiados que chegam ao Brasil. Ele deixou na Venezuela três filhos maiores do primeiro casamento. Ela deixou uma filha mais velha de oito anos com os avós. “É difícil uma mãe deixar sua filha. Não é comum e nem é bem visto, mas a solução já não estava em minhas mãos”, lamenta Daniela. A família decidiu sair de Pacaraima, onde ficou algumas semanas dormindo na rua, e ir para São Paulo. Em Caracas, Jesus ganhava o equivalente a R$ 17 por mês como cozinheiro. Vendendo cafezinho na fronteira, ele consegue esse valor em um dia. Mas como não conseguiu emprego, decidiu sair da cidade. Para o percurso até a capital paulista, eles contaram com a solidariedade de pessoas que cruzaram seus caminhos. Foram muitos quilômetros de caminhadas a pé, caronas, hospedagem em tribo indígena, em abrigo, em casas de famílias brasileiras. O repórter Estevan Muniz e o repórter cinematográfico Eduardo de Paula acompanharam toda essa trajetória. Confira no vídeo acima. Ao chegar em São Paulo, Jesus dormiu duas semanas em um pequeno hotel, com a ajuda da ONG Fraternidade Sem Fronteiras. Foi pela ONG também que ele recebeu uma proposta para ser caseiro em um sítio no interior. A vida de quem fica na Venezuela O Profissão Repórter convidou o jornalista independente Rhonny Zamora, que mora em Caracas, para fazer uma reportagem do ponto de vista dos venezuelanos sobre a crise do país. Ele conta que uma fila para sacar dinheiro pode durar entre uma e três horas e que o venezuelano médio passa muito tempo em filas: para os alimentos regulados, para sacar dinheiro, porque o transporte público se paga em dinheiro, por exemplo. O valor que pode ser sacado no banco é sempre limitado. “Se você quer dinheiro, há gente que te vende dinheiro. Eu tenho 600 mil bolívares e isso não se consegue em nenhum banco. Você tem que ir até pessoas que te vendam dinheiro. Por 100 mil, você paga 200 mil. Te cobram o dobro do cartão de débito para te dar notas em dinheiro”, conta Rhony. Em março desse ano, um salário mínimo na Venezuela era 1 milhão e 300 mil bolívares, capaz de comprar apenas seis pacotes de pão de forma ou três pacotes de papel higiênico. A principal fonte de renda da venezuelana Eldglys é o ex-marido, que migrou para o Peru há um ano e trabalha lá como cozinheiro. Ela recebe US$ 100 do ex-marido, cerca de R$ 340, e mais dois salários mínimos pelo trabalho como contadora em Caracas, cerca de R$ 25. “Eu tenho um irmão que trabalha num ministério e ele foi diagnosticado com desnutrição. Ele recebe a bolsa do governo, com farinha, leite, mas não há proteínas. As vacinas também não se conseguem e ele tem um filho pequeno”, conta. Josefina e sua família vivem no alto das montanhas que cercam a cidade de Caracas. Para ela, o que a crise mais afetou foi a falta de comida: “infelizmente não tem nada. As únicas coisas que tenho são garrafas de água”. Sempre que precisam comprar comida, o irmão de Josefina desce o morro para buscar em Caracas, mas o dinheiro nem sempre é suficiente. Com um salário mínimo, é possível comprar apenas três frangos inteiros. Para driblar a falta de carne e o desemprego, a família está criando coelhos e também plantando tomates e plantas medicinais. No fim deste mês, a Venezuela realiza eleições presidenciais. O atual presidente Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, é candidato à reeleição. Parte da oposição quer boicotar a votação como forma de protesto. https://www.youtube.com/watch?v=AD_p3y3oH6Y