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‘Amamentar É Natural, Mas Precisa Ser Aprendido’, Diz Consultora
‘Amamentar é natural, mas precisa ser aprendido’, diz consultora
Quando médico e paciente estão alinhados, a chance de o processo de amamentação acontecer de forma natural e sem traumas é muito maior
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- Publicado em: 22.08.2017
Quando se trata de aleitamento materno, mais do que reforçar seus evidentes e inquestionáveis benefícios para o desenvolvimento do bebê, é preciso também pensar que amamentar deve ser só possível, mas confortável, e para as duas partes envolvidas.
O ciclo vicioso da falta de informação sobre as técnicas corretas de amamentação sempre acarreta em prejuízos para o bebê e para a mãe.
Basta uma olhada rápida na sequência acima para reparar como se dá a reação em série de causas e consequências de um processo mal conduzido ou negligenciado. Para Natália Turano, consultora em lactação certificada pelo IBLCE- International Board of Lactation Consultant Examiners e enfermeira do Hospital Albert Einstein, esse ciclo vicioso tem um único disparador comum: a falta de informação.
“Uma amamentação adequada e informação correta previne a complementação alimentar, por isso a mulher precisa se informar cada vez mais, principalmente no começo da amamentação”.
Amamentação é um processo natural, mas precisa aprendido, com muita calma e orientação confiável”, explica a profissional ressaltando que a apreensão do ato de amamentar é processual e varia muito de mulher para mulher. “Amamentar nem sempre é tão fácil”, pondera.
Suprindo as lacunas de informação: onde buscar?
Nesse contexto, é preciso discutir a importância de um protocolo nacional de aleitamento materno, para munir não só as famílias, mas também os profissionais de saúde com as informações mais completas, atualizadas e seguras que a literatura sobre o assunto oferece.
Hoje, no Brasil, a grande referência que dá norte aos profissionais do meio são os Cadernos de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, cuja última edição é de 2015. Lá, constam informações completas e seguramente comprovadas não só sobre os benefícios e a importância do aleitamento, mas também sobre questões pontuais que podem figurar nas dúvidas e nos receios mais frequentes das mulheres, como duração da amamentação, técnicas de pega, manejo e armazenamento de leite materno em condições específicas, restrições ao aleitamento, entre muitos outros tópicos.
O documento, chamado “Saúde da Criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar” está disponível no site do MS para download gratuito.
Segundo Natália, um protocolo nacional de aleitamento atua no sentido de padronizar a conduta médica, especializada e familiar, a fim de minimizar os mitos que cercam o aleitamento. “Fonoaudiólogo, nutricionista, profissionais de saúde em geral, famílias: todos precisam falar a mesma língua”, explica.
A profissional fala também sobre a importância da rede de apoio no período de amamentação. “Para que a mãe tenha sucesso, ela precisa de apoio não só dos profissionais, mas também da sociedade e da família. Não é uma responsabilidade só da mulher”, diz.
Turano explica que, quando médico e paciente estão alinhados, a chance de o processo de amamentação – que engloba o antes, o durante e o depois do ato de amamentar – acontecer de forma natural e sem traumas é muito maior.
“Pega, posicionamento adequado, patologias mamárias, mastite, há várias coisas que englobam esse processo. Uma das principais causas de desmame, por exemplo, é o trauma mamilar, ou seja, a dor que a mulher sente. Para melhorar isso, é preciso dar suporte”, ressalta.
Ou seja, não basta optar pelo aleitamento materno, é preciso que a mulher esteja inserida em um contexto de acolhimento, empatia e colaboração em todo o processo. Afinal, é a mulher quem dá o peito, mas toda a família participa junto, cooperando, apoiando e assumindo tarefas no lugar da mãe.
“Os pais têm sido identificados como importante fonte de apoio à amamentação. No entanto, muitos deles não sabem de que maneira podem apoiar as mães, provavelmente por falta de informação. Alguns sentimentos negativos dos pais, comuns após o nascimento de um filho, poderiam ser aliviados se eles estivessem conscientes da importância do seu papel, não apenas nos cuidados com o bebê, mas também nos cuidados com a mãe.” (Fonte: “Saúde da Criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar”)
“Muitas vezes, as mulheres precisam de um reforço positivo em relação à amamentação, mas algumas buscam informação junto a pessoas que não estão preparadas para fornecê-las. O ideal é que a mulher tenha um suporte desde a gestação até o pós-parto”, reforça.
No entanto, se ainda hoje a amamentação não é um assunto esclarecido para muitas pessoas, antigamente era ainda pior, quando o acesso à informação não era tão simplificado. Isso faz com que mulheres de gerações passadas carreguem uma grande carga de traumas sobre seus períodos de aleitamento, o que contribui para perpetuar mitos e medos infundados.
“Buscar referências com mulheres que não tiverem boas experiências em relação à amamentação (por exemplo, avós ou mesmo mães da nutriz que não tiverem orientação nem acesso à informação) pode atrapalhar muito. Ou ainda na internet, com amadores. Hoje, muitas mulheres buscam ajuda em bancos de leite na região onde moram ou nos hospitais onde deram à luz, é muito mais fácil conseguir informação do que antigamente”, pontua a enfermeira.
- Reforço positivo, aqui, representa a rede de apoio da mulher. É desde quem está ao lado da dela clinicamente falando (médicos, enfermeiras, consultoras, doulas, nutricionistas, entre outros) até a pessoa que dá o suporte para que essa mulher consiga amamentar no dia a dia. Por exemplo, a amiga que cuida do bebê para a mãe poder estimular a produção de leite, o pai que toma conta da casa para que a mulher possa focar nos cuidados com o bebê, o chefe que acolhe a lactante em suas necessidades durante o expediente, entre outros. Enfim, é não achar que essa é uma atividade somente da mulher.
A consultora aconselha que, além dos Cadernos de Atenção à Saúde Básica do Ministério da Saúde, a mulher pode buscar informações junto à Unicef, Pastoral da Criança e no site da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Quais os instrumentos de apoio à amamentação mais efetivos no Brasil hoje?
A resposta à questão acima é complexa, e envolve uma série de fatores que concernem tanto à esfera do poder público, quanto das iniciativas privadas e da mobilização comunitária e individual. Isso porque os direitos da mulher no que toca à amamentação estão representados pela licença-maternidade, pela legislação que prevê o direito de armazenar o leite materno em creches e escolas, pela pausa para amamentação prevista nas leis trabalhistas. Natália Turano ressalta a importância de dar continuidade ao suporte do aleitamento no pós-parto.
“A questão da volta ao trabalho é muito importante, sem dúvida, o ideal seria que a mulher tivesse a licença ampliada para seis meses. As mulheres voltam a trabalhar quando o bebê tem ainda quatro meses de vida, o que é muito prejudicial. Mas o que eu acho que poderíamos melhorar é o suporte no pós-alta hospitalar. O ideal seria que existisse um processo de orientação domiciliar à mulher. O Governo poderia dar subsídio para isso, como acontece em países de primeiro mundo, oferecer enfermeiras de cuidado a domicílio, mas não só, é preciso que os hospitais também tenham esse serviço”.
Segundo ela, esse cenário ideal ampliaria as opções às quais a mulher poderia recorrer quando tivesse dúvidas, evitando que ela fique suscetível a profissionais incapacitados ou mesmo fontes não seguras na internet, como é comum acontecer.
Apesar de todos os déficits, o Brasil é considerado referência no assunto
Um estudo do na ção médica britânica The Lancet apontou o Brasil como país referência mundial em aleitamento materno. A ção cruzou dados de 1.300 estudos de 159 países, e destacou como diferenciais do país a regulamentação da Lei da amamentação, em novembro de 2015, que limitou a comercialização de substitutos do leite materno, a sistematização da certificação dos hospitais “Amigos da Criança”, e também a rede brasileira de bancos de leite humano que é a maior do mundo, com 218 hospitais e 161 postos de coleta distribuídos em todos os estados. O modelo brasileiro, inclusive, já foi exportado para 25 países da América Latina, da África e da Europa.
A importância do atendimento continuado
A mulher gestou, deu à luz e já está amamentando. A quem recorrer durante o pós-hospitalar? Hoje, a mulher que precisa de auxílio pode recorrer aos bancos de leite de seu bairro, a hospitais e profissionais obstetras e consultores de aleitamento de sua confiança, ou ainda a serviços em domicílio.
“No Einstein, temos esse serviço de home care, além do serviço de amamentação. Quando avaliamos que é um aleitamento de risco, que a mulher está com dificuldade no pós parto, ela recebe um profissional enfermeiro especialistas em amamentação na casa dela. Algumas maternidades possuem esse serviço, e outras não”, explica Natália.
O atendimento baby care, por exemplo, inclui serviços como maternidade em casa (apoio domiciliar às mães); orientação à amamentação e aos cuidados nos primeiros dias de vida por enfermeiras; cuidados com o recém-nascido, incluindo o bebê prematuro e outros procedimentos domiciliares especiais.
Além disso, o Hospital possui também tele baby care, uma consultoria à distância que a mulher pode usufruir do conforto de sua casa. O serviço oferece consultoria de enfermeiras especialistas, em uma consulta individual e personalizada, que visa complementar o atendimento hospitalar. Ambos os serviços são pagos pelo paciente – saiba mais aqui. É possível ter mais detalhes também pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (11) 2151-1233.
Na hora de procurar auxílio, um ponto é fundamental: saber a quem recorrer, no sentido de conhecer e confiar no trabalho do profissional ou da instituição escolhida.
O Ministério da Saúde do Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) recomendam que o leite materno seja o único alimento a ser ingerido pelo bebê até os 6 meses de idade.
Hoje, para ser consultor de amamentação, é preciso prestar uma prova de aplicação do IBLCE, instituto americano que fornece o Certificado Internacional de Consultor em Lactação. Antes de realizar a prova, é precisar comprovar horas de assistência à amamentação e conhecimento prévio na área, além de cursos de aperfeiçoamento e atualização. A prova é anual, e o título tem duração de cinco anos, e após esse período é preciso refazer o processo. Ou seja, consultores certificados são inegavelmente preparados para dar os subsídios que a nutriz, o bebê e sua família necessitam.
“O objetivo básico do Certificado Internacional de Consultor em Lactação é beneficiar o público por meio do estabelecimento de critérios mínimos para a prática dos profissionais que se dedicam ao aleitamento materno. Espera‐se que um profissional habilitado com este certificado tenha todas as condições de assistir as duplas mães‐bebês e suas famílias e ajudá‐las no manejo das dificuldades com o aleitamento materno. Além disso, os profissionais que trabalham com aleitamento materno que possuem este certificado são reconhecidos e, em muitos países, recebem oportunidades diferenciadas em relação àqueles que não o possuem.”
(Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria)
- Especialistas x Consultores – Natália Turano afirma que é importante a família saber que nem todo especialista em aleitamento é necessariamente um Consultor em Lactação. No Brasil, temos cerca de 64 consultores certificados apenas. É muito comum profissionais se denominarem consultores, mas são apenas especialistas.
Podem se candidatar ao certificado, profissionais de diversas áreas tais como médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais, educadores, entre outros, desde que preencham critérios específicos e possuam um histórico satisfatório de conhecimento prévio. Clique aqui para conhecer os pré-requisitos, e acessar o passo a passo de como obter a certificação.
Em 2017, o Catraquinha esteve em uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein para falar sobre temas que fazem parte da vida de mães, pais e cuidadores: saúde da criança, saúde da gestante, parto e amamentação. Em 2018, o Catraquinha virou Lunetas e passou a fazer parte exclusivamente da estrutura do Instituto Alana.