História em quadrinhos gera polêmica em escola particular de Vitória
Uma versão em quadrinhos do livro O Diário de Anne Frank causou polêmica em uma escola particular em Vitória. O clássico literário juvenil foi indicado como material de ensino paradidático para as turmas do 7ª ano do ensino fundamental, mas para os pais de alunos, apresenta trechos com conteúdo ligado à sexualidade que não deveria ser lido por jovens na faixa dos 12 anos de idade.
O pai de uma aluna, que pediu para não ser identificado para não expor a filha, disse que não foi apenas ele que ficou indignado com o vocabulário do livro e que a menina também achou estranho.
"A minha filha trouxe a informação pra mãe dela, de que ela tinha lido o livro e começou a falar do que estava acontecendo em sala de aula, de que as crianças estavam repercutindo o conteúdo do livro na sala. Ela contou que alguns menino estavam fazendo chacota com as meninas, porque o livro fala do órgão genital feminino", disse.
Ele acredita que a escolha da escola acabou antecipando um momento da vida da filha.
"Ela comentou com a gente acerca de penetração, de masturbação, de colocar o dedo na vagina. Coisas que não são para a idade dela. Ela sequer tinha curiosidade de sabe aquelas coisas ainda, mas depois que ela leu, a gente teve que explicar, porque é melhor pai e mãe explicando do que um amiguinho ou uma pessoa mal intencionada", explicou.
O livro é uma releitura do Diário de Anne Frank, que teve a primeira edição da em 1947. É um clássico da literatura do século XX em que uma adolescente judia de 15 anos conta a tensão que a família sofreu durante a Segunda Guerra Mundial. A obra indicada pelo colégio é uma versão em quadrinhos, adaptada para uma leitura mais leve.
Na porta da escola, que fica em Jardim Camburi, a reportagem encontrou outras crianças que leram o livro. "Depois que minha mãe viu, ela não deixou eu terminar de ler. Eu achei que as coisas do vocabulário não são para a nossa idade", disse a menina, que não será identificada.
Trecho da história em quadrinhos baseada no Diário de Anne Frank (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Escola
Em nota, o colégio disse que nem todos os pais desaprovaram o livro, mas a direção achou melhor suspender a leitura do livro para as turmas do 7º ano por causa do desconforto que foi gerado.
Literatura
A coordenadora do grupo de pesquisa, literatura e educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), maria Amélia Dalvi, disse que essa não é uma questão simples de definir como certo ou errado e expõe o ponto de vista.
"Me espanta muito que as pessoas se choquem com questões de sexualidade do que com o terror que milhões de pessoas condenadas aos campos de concentração passaram. Eu imagino que com 12 anos as questões ligadas a corpo e sexualidade já habitam o imaginário das crianças, dos adolescentes. As indagações já começam a aparecer. É muito melhor aprender sobre isso mediado pelos pais ou pela escola do que na rua", disse.
A especialista também defendeu a importância do conteúdo da obra O Diário de Anne Frank para os jovens.
"Tem uma coisa, que a gente sempre precisa se lembrar: qual é o papel da literatura na escola? A literatura existe para complexificar a compreensão do real e ela faz isso quando nos defronta com questões difíceis da existência. Eu penso que uma obra que foi escrita por uma adolescente entre os 13 e os 15 anos, abordando coisas que passavam pela cabeça lá década de 40, e que se tornou após ção um clássico juvenil no mundo inteiro, é um material muito importante que precisa sim ser debatido nas escolas", explicou.