Artigo
Como O Machismo Está Presente Na Educação?
Como o machismo está presente na educação?
Valores que diferenciam meninos e meninas podem ser passados mesmo que de forma inconsciente para as crianças
Escrito por Raquel Baldo
Psicologia - CRP 79518/SP
Por Especialistas - Em 15/7/2016
O machismo é um comportamento cultural e histórico social muito presente ainda em nossa sociedade, e também na educação.
Quando falamos de desigualdade entre os sexos, muitos acreditam ser um exagero e que em nosso país isso já não acontece. Mas é muito importante ressaltar e explicar que não, não somos um país com igualdade entre os gêneros, assim como tantos outros que também estão em alerta e em movimento por essa readequação cultural.
Por mais que não possuamos um comportamento radical de submissão das mulheres frente aos homens como lemos e assistimos em outras regiões e culturas, vivemos sim e ainda um comportamento intenso e enraizado de machismo, que envolve tanto os homens quanto as mulheres.
O machismo de cada dia
O machismo está presente no cotidiano e em ações e pensamentos que parecem pequenos, mas geram um autoimpacto social, pois desmerecem a mulher/menina e enaltecem o homem/menino. Acontece sempre que uma menina ou mulher ouve que não pode fazer ou falar ou usar algo por ser menina, assim como ganhar um salário menor por ser mulher e mãe, enquanto homens e meninos recebem uma permissão para fazer, falar, usar, beber, não se controlar, ganhar um salário maior, não cuidar da casa e filhos, porque são homens ou meninos. Isso é machismo!
Entendendo o conceito e a presença do machismo em nossa vida, podemos sim pensar que o machismo é passado de pai para filho, de escola para aluno, pois se trata de um ensinamento cultural. E não acontece em livros, técnicas ou cartilhas, mas sim através de atos e palavras ligadas aos valores morais e sociais, são informações absorvidas psíquica e emocionalmente e que farão parte do ser humano (masculino ou feminino) ao longo de suas vidas, ditando inconscientemente suas atitudes, pensamentos, sentimentos e escolhas, podendo assim repetir o que foi aprendido.
Não estou aqui questionando a educação que cada família dá a seus filhos ou mesmo as pedagogias escolares, estou apenas convidando todos para pensarem no quanto este é um assunto que se trata de aprendizado, pois é cultural, isto é, passado de geração em geração, de época a época, de pai para filho, de escola para aluno.
Cada vez que um pai ou mãe ou escola tentando cuidar, defender ou preservar uma menina e diz que ela não pode fazer algo, usar certa roupa, falar de certo jeito ou deve mudar algo por ser menina, está sendo machista. Cada vez que uma família ou escola explica que um menino faz algo, que fala de certa forma, que age de certo jeito, que não pode conter seus hormônios e desejos, tudo isso por ser um menino, está sendo machista também.
Como reverter isso?
Mas o que fazer então para minimizar os impactos de uma sociedade machista na educação dos nossos filhos? Como os pais e escolas podem educar crianças que não se rendam ao machismo e assim colaborar com um meio de mais igualdade?
Não há jeito único ou técnica para seguir, porém há alguns pontos que vale colocar aqui para que possam ao menos pensar a respeito:
- Repensem sobre o que querem de seus filhos e alunos, se realmente acreditam que meninos e meninas são iguais. Sem isso, não adianta ir adiante, pois se trata de uma questão cultural
- Cuidado com suas palavras e atitudes que possam destacar que meninos e meninas são diferentes. Exemplo: falar palavrão porque é menino e logo tudo bem, ou ter que sentar comportadamente por ser uma menina, assim como dizer que uma menina chora e menino não, que meninas são sensíveis e inteligentes e que meninos são terríveis e desobedientes, ou mesmo que um menino deve cuidar da menina porque ela frágil e delicada e ele forte e poderoso. O inverso também gera conflitos, que a menina por ser delicada e indefesa deve querer um bom namorado forte, inteligente, que proteja e sustente. Esses exemplos todos parecem pequenos, mas ensinam que as diferenças entre os gêneros sempre se dá por um dos lados ser poderoso e especial, enquanto o outro vale menos e deve ser submisso
- Ensinem as meninas a confiarem nelas mesmas, a gostarem de si e a descobrirem quais seus potenciais, não serem menos nem mais que os meninos, somente serem elas e o quanto isso é valioso
- Ensinem os meninos a entenderem que são valiosos tanto quanto as meninas são, pois são seres humanos, que devem respeitar as meninas, não por serem menos, frágeis ou indefesas, mas porque merecem respeito por quem são. Eles podem até ser heróis (meninos adoram ser heróis e isso não é um problema), mas eles não são salvadores do mundo, vamos lembrar que há uma diversidade de heróis, meninos e meninas, e que todos juntos é que salvam o mundo. Meninos não são mais nem menos que meninas.
Um ponto é fato, o machismo já não é mais visto como há certo tempo atrás, apesar de ainda existir (e talvez exista sempre) ele já não é mais aceito sem questionamento, as mulheres não aceitam mais caladas e submissas que seus valores de ser humano sejam menos que dos homens.
Muitos homens também se incomodam quando se deparam com tal situação e são defensores da igualdade de gêneros, ou seja, do feminismo, pois não querem que suas mães, irmãs, namoradas, esposas, filhas sejam menos por serem simplesmente do gênero feminino.
Mudanças estão acontecendo, mas ainda levará tempo para que possamos colher algum resultado mais efetivo que pregue a igualdade entre os gêneros. Uma cultura é feita de história, tempo, por uma sociedade e por novas gerações que apresentam novas possibilidades, é muito importante sabermos disso, pois assim podemos usar do que sabemos e também criarmos novas possibilidades para o futuro que desejamos hoje. Vamos pensar sobre isso?
Fonte:
https://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/21059-como-o-machismo-esta-presente-na-educacao
Como educar seu filho para não ser um cara machista
Date: 05/10/2016
Sai o resultado do ultrassom, você avisa familiares e amigos que é um menino. Alguém lança: “Prendam suas cabras que já já este bode aqui vai estar solto na área”. O nenê ganha roupinhas azuis, uniforme de futebol, carrinhos, super-heróis. Mais tarde, no parquinho, ele brinca com a boneca de uma amiguinha e imediatamente alguém te adverte: “Você vai deixar? Não tem medo que ele seja gay?”. Você repreende a criança. Seu filho chora. Você fala para o menino: “Pare de chorar! Você não é uma menininha, é um homem”. Ele segue crescendo. Você não pede ajuda com as tarefas domésticas, como faz com a sua filha, porque “isso é coisa de mulher”. Adolescente, ele vê uma garota de saia curta e decote e diz que ela está “pedindo para ser assediada” porque “não se dá o respeito”. Você concorda com ele. Sinto muito: você criou um machista…
Por Nathalia Ziemkiewicz, do Yahoo
Não precisa (nem deve!) ser assim. A página Já falou para seu menino hoje?, que acumula mais de 66 mil seguidores, ajuda pais e mães a construir uma sociedade mais justa e menos violenta. Especialmente no que diz respeito à educação dos meninos. A iniciativa virtual é da pedagoga Caroline Arcari, presidente do Instituto CORES, e da psicóloga Nathalia Borges, coordenadora do projeto de relações de gênero na Escola de Ser. Nesta entrevista, elas debatem o assunto e dão nove dicas preciosas para evitar que seu filho reproduza comportamentos machistas.
A psicóloga Nathalia Borges e a pedagoga Caroline Arcari, idealizadoras e coordenadoras da página “Já falou para seu menino hoje?” no Facebook (Divulgação / Arquivo pessoal)
– Quando falamos em combater o machismo, pensamos logo em empoderar as mulheres. Mas qual é a importância de combatê-lo também a partir dos meninos?
Caroline e Nathalia: Na Escola de Ser construímos com as crianças oficinas que abordassem temas sobre a equidade de gênero. Alunas e alunos sempre traziam situações de suas realidades como: uma menina impedida de jogar futebol na escola; um menino que sofreu bullying por chorar; um grupo de meninas que levou advertência pelo tamanho do shortinho; uma mãe que apanhou do companheiro por não cumprir as tarefas domésticas; uma menina de 12 anos incomodada com os assédios que sofria no caminho da escola.
Depois que realizamos uma oficina de empoderamento de meninas, notamos que os meninos não estavam desenvolvendo empatia nem sensibilidade à causa. Pelo contrário, eles estavam resistentes aos temas trabalhados. Trabalhar essa temática com meninas é mais simples, pois nas discussões e atividades elas ganham autonomia, se empoderam sobre o seus corpos, se veem mais capazes de tomar decisões independentemente da opinião alheia e também se sentem acolhidas em suas angústias e denúncias. Ao trabalhar a mesma temática com os meninos, eles “perdem” coisas, perdem privilégios, perdem poder, deixam de ser legitimados por comportamentos opressivos que são tidos como da personalidade masculina. Porém, à medida que eles aumentam suas possibilidades de ser e se expressar das mais variadas formas, também ampliam a sua compreensão crítica do mundo, tornando-se capazes de romper ciclos de opressão e repensar comportamentos tão naturalizados e que a sociedade, ainda, perversamente, exige dos garotos.
A ideia de trabalhar com meninos é também dividir a responsabilidade social para um mundo mais justo. Não só empoderar meninas sobre suas potencialidades e direitos, mas educar meninos para que respeitem o corpo, o espaço e as decisões das meninas. Não só ensinar meninas a tomarem espaços públicos e posições de tomada de decisão, mas educar meninos para que se apropriem do espaço doméstico, que também é responsabilidade deles. Não só criar novas possibilidades de ser mulher, sem os padrões de submissão, mas mostrar novas possibilidades de ser homem, que não estejam vinculadas ao controle, uso do poder e agressividade.
– De que forma o machismo prejudica os meninos?
Caroline e Nathalia: Parece que não, mas os meninos também sofrem com a rigidez dos estereótipos de gênero. Um exemplo é que muitos deles são vítimas e assistem à violência doméstica. Contraditoriamente, por falta de modelos e alternativas, acabam repetindo comportamentos que outrora tanto lhes prejudicaram. É preciso ensinar a eles que não precisam ser agressivos ou territorialistas para serem masculinos.
Engolir o choro, provar que é “homem”, não poder expressar os medos, dissimular sentimentos, cumprir ritos sociais agressivos, mostrar-se valente, heróico, exercer o controle, competir… tudo isso é uma carga que para um menino é pesada sim. O documentário The Mask You Live In mostra que as exigências sociais que os meninos cumprem os afastam de sua humanidade, do potencial de contribuírem para uma sociedade com menos violência e mais equidade entre os gêneros.
Reconhecemos que indiscutivelmente as vítimas do machismo são meninas e mulheres em suas mais variadas nuances, como nos prova uma estatística arrebatadora: a cada 11 minutos 1 mulher é estuprada no Brasil. Ou seja, a cada 11 minutos um homem estupra no Brasil. E é nessa questão que queremos chegar. É urgente educar meninos para que descubram novas masculinidades, novas formas de se relacionarem e se posicionarem no mundo, para que se consiga de maneira eficaz diminuir os dados de violência doméstica, sexual e de gênero.
– Como educar um menino para não ser machista numa sociedade machista? É fácil? Quais são as vantagens (pra todo mundo)?
Caroline e Nathalia: Claro que não é fácil! Educar um menino para não ser machista pressupõe, antes de tudo, educarmos as pessoas adultas que cresceram nesse mesmo contexto, que riram de piadas machistas, viram os homens relaxarem depois do churrasquinho de domingo enquanto as mulheres lavavam a louça da família toda, que cresceram achando que as cantadas abusivas eram um elogio, que julgaram as roupas e comportamento das mulheres que um dia sofreram violência sexual.
Sejam mães, pais, responsáveis, professores ou professoras, a educação de meninos para a equidade de gênero é posterior a uma reflexão dos próprios adultos responsáveis por ela, que, se tiverem a oportunidade, podem desconstruir os valores com os quais foram socializados, a fim de promover uma educação engajada que diminuirá a violência, como dissemos antes.
É um trabalho que requer persistência, pois ao mesmo tempo que ensinamos um menino que ele não precisa adotar certos tipos de comportamentos para ser “homem”, ele também recebe uma série de estímulos machistas vindos dos mais variados veículos como músicas, filmes e até mesmo da família e amigos. Esses elementos são de grande impacto em sua vivência.
As vantagens dessa educação para a igualdade são para todos. Até para a próxima geração que terá pais (plural de pai) mais presentes na educação dos filhos e um modelo de relação familiar mais saudável, com menos violência doméstica. E quando dizemos que é pra todo mundo, queremos dizer que a economia e desenvolvimento global estão intimamente ligados à equidade de gênero. O próprio enfrentamento da pobreza depende disso, como sugere o Fórum Econômico Mundial, que estabelece o Ranking sobre Equidade de Gênero dos países do mundo.
– Vocês poderiam ilustrar o que pais e mães podem fazer em casa? Existem funções diferentes para o pai e para a mãe nesse processo?
Caroline e Nathalia: Não só o que mães e pais dizem, mas também como se relacionam e dividem as tarefas da casa, já são componentes essenciais na percepção da criança sobre como homens e mulheres se comportam e dividem suas funções no cotidiano. Para sermos mais práticas, podemos fazer uma listinha super especial do que NÃO fazer. Evite:
- Dizer que homem não chora, principalmente se o menino está sentindo medo, dor ou constrangimento. Todo ser humano pode (e deve) chorar, com ou sem motivo aparente. Chorar não diminui o valor do ser humano, nem é coisa inerente à feminilidade.
- Dizer que quando um menino belisca ou puxa o cabelo de uma menina é porque está apaixonado por ela. Se você disser isso, está naturalizando que amor pressupõe violência.
- Dizer para o menino: “seja macho” ou “aja como homem”. Essas frases exigem da criança que ela se comporte com agressividade e uso de poder. Porém, cada ser humano tem características próprias e deveria ter a possibilidade de se expressar da maneira que lhe convier, com liberdade.
- Deixar as tarefas domésticas somente para as meninas. Para limpar a casa, lavar roupa e cozinhar não precisa usar o órgão genital, apenas as mãos. E mãos, meninos e meninas têm, não é mesmo? Além disso, todos utilizam e sujam os ambientes da casa. Nada mais justo todos participarem e ninguém ficar sobrecarregado!
- Dizer “segurem suas cabritas que meu bode está solto”. Essa frase é a tradução da cultura do estupro. Autoriza meninos a assediarem, avançarem o sinal, agirem como pegadores, enquanto sugere que meninas que não estiverem protegidas, podem ser pegas pelo bode com impulso sexual incontrolável. Não é à toa que a sociedade, perante um caso de estupro, culpabilize a vítima ao comentar de sua postura e sua vestimenta, ao invés de se indignar com o crime em si, cujo responsável é tão somente o estuprador.
- Falar que meninas devem “se dar o respeito”. Ei, mulheres e meninas não precisam se dar o respeito porque ele já é delas e está garantido por lei. Não cabe a ninguém julgar atitude, roupa ou postura das mulheres.
- Dizer que homem tem que ser “cavalheiro” com as mulheres. A real é que homens devem tratar as mulheres da mesma forma que devem tratar qualquer pessoa: com respeito e gentileza.
- Dizer que futebol é coisa de homem ou que dançar é coisa de mulher. As brincadeiras e esportes são atividades lúdicas que a criança escolhe simplesmente porque gosta. Para um bebê, qualquer objeto é fonte de prazer para o brincar: uma garrafa pet, um pote, um balão. Deixar que as crianças experimentem atividades e tenham novas experiências, aumenta o repertório de amizades e satisfação pessoal.
- Dizer para a menina que cozinha “já pode casar”. Por que o ato de cozinhar deve estar vinculado ao matrimônio e à função de uma esposa? Hoje em dia, quando alguém cozinha um quitute na Escola, falamos: “ah, já pode estudar fora” ou “nossa! já pode cozinhar para os amigos!” ou ainda “uau, pode morar sozinho(a) hein?”.
*Nathalia Ziemkiewicz, autora desta coluna, é jornalista pós-graduada em educação sexual e idealizadora do blog Pimentaria.
Fonte:
https://www.geledes.org.br/como-educar-seu-filho-para-nao-ser-um-cara-machista/
Para combater o machismo, educação em casa é essencial
Tarefa de conter essa mancha é enorme. Precisa começar na família, já que as crianças aprendem por imitação
Pai e filho leem jornal.GETTY
Temos cifras escandalizantes de maus tratos e assassinatos contra mulheres. Damos muita ênfase às leis e, tenho a sensação, ignoramos a questão educativa na infância, a origem de todas as personalidades adultas. De que servem leis exemplares quando a mulher já está morta? De que servem condenações exemplares se o machismo continua correndo solto?
A educação falha porque há muitíssimas coisas que deixamos de lado e não levamos suficientemente a sério. E aí os pais, quando precisamos educar, temos muito a fazer, porque a responsabilidade é enorme. Um homem não nasce estuprador e nem machista. Ele aprende por imitação, principalmente em casa. E tanto da mãe como do pai.
Sou mãe de duas meninas pequenas. Minha tarefa com relação a elas consiste basicamente em que cresçam felizes, sadias mental e fisicamente e com critério, com capacidade para tomar suas próprias decisões quando forem adultas. É uma das bases da liberdade: saber escolher e assumir os erros caso existam. O problema é que aprender a tomar decisões não se improvisa, aprende-se praticando. Para trabalhar esse critério, preciso deixá-las escolher, mesmo quando é imensamente mais cômodo escolher por elas. Deixar que as crianças comecem a tomar decisões é importante para formá-las com critério. E eu gostaria de deixar claro (hoje em dia é preciso sempre explicar tudo) que não deixo que subam na janela para que saibam o que se sente se caírem no vazio, mas permito, isso sim, que tomem outras pequenas decisões no dia a dia. Como escolher sua roupa, escolher entre descer para brincar no jardim ou ficar em casa brincando e desenhando, deixando que escolham quais atividades extraescolares querem fazer e, inclusive, dentro de um menu equilibrado, em muitos dias lhes dou a oportunidade de decidir entre dois pratos para o jantar. Acredito que fomentar a capacidade de escolha nas crianças fará delas adolescentes e adultos muito mais assertivos quando alguém os agredir ou interferir em seus sentimentos. Aprender a decidir também significa aprender a dizer não.
Claro que não basta que alguns pais façamos isso. Os outros também precisam fazê-lo. Recordo um dia em que a mais velha estava num aniversário. Um menino da classe dela (convencido de que ela tem que ser sua namorada, sendo que ela não tem o mínimo interesse por ele) a estava importunando para que o beijasse. Ela se negava. O menino, persistente, quando viu que não conseguiria por bem, decidiu ir para o tudo ou nada e a agarrou para lhe plantar um sonoro beijo na bochecha. Eu observava de longe, sem querer intervir, queria saber que recursos ela teria. Finalmente, minha filha veio para mim chorando e dizendo que esse menino tinha lhe “quebrado o pescoço” (essa era a maneira de expressar o machucado que sofrera). Em seguida intervimos as duas mães e, para minha surpresa, a mãe do menino explicou à minha filha que o filho dela havia feito isso por “gostar muito de você”. Fui covarde e não chamei a mãe a sós depois do incidente para lhe explicar que quando uma pessoa diz não é não. Tanto faz para mim que seja uma mulher ou um homem. E que gostar muito não dá à pessoa o direito de beijar a outra. Na verdade, não dá direito a nada.
Fui embora do aniversário muito inquieta. Por um lado, estava horrorizada, e por outro sentia uma espécie de medo de ser uma exagerada. E isto me acontece porque ainda persiste na sociedade a ideia de que muitas de nós dramatizamos atitudes que são, aparentemente, “normais”.
É claro que as leis têm de ser as que sempre garantem os interesses dos cidadãos, mas, por que não focamos de verdade na origem? Todos somos o resultado de nossa educação. E, quando falo de educação, me refiro à família, não à escola (que é educação e também importa). Se não banimos frases e crenças pela raiz, nunca vamos acabar com o machismo. Pais e mães devem trabalhar tanto com os meninos quanto com as meninas. O machismo também ocorre entre as mulheres, e de uma maneira ainda mais ofensiva, se possível.
Chegaram a ler os comentários nas redes sociais sobre o desaparecimento de Diana Quer? Ou os comentários feitos após o estupro de Pamplona? Muitos focam em culpar a vítima, em vez do agressor. Em torná-la responsável pelo ocorrido: quem é que se envolve estranhos; que é preciso ver se havia bebido ou não; que sabe lá Deus se é verdade, porque (este é o pior e há um artigo circulando por aí) “quando as garotas de Navarra ou bascas te dizem sim, tenha cuidado porque, quando voltam a ficar sóbrias, então percebem o que fizeram e denunciam você por estupro”; veja como estava vestida, por isso não me admiro que a estuprem; se na verdade estava buscando confusão... Que educação receberam os que pensam assim?
A educação é um caminho longo, às vezes difícil, mas sempre tem que estar na mesma linha. Se estamos horrorizados com o machismo, não podemos continuar educando as crianças com estereótipos como os “meninos não choram; isso é para maricas; para ser bonita tem que sofrer; que esse esporte é de meninos; bonecas são para meninas”... A lista é interminável. Isso na infância, mas na adolescência o discurso tampouco muda. Por acaso não é uma frase das mães a de que você precisa se dar ao respeito, e por isso não pode ir para a cama com um garoto no primeiro encontro? Sempre vi algo de perverso nesse discurso. Porque, o que se busca com esse conselho não é um respeito emocional, e sim de pureza, de virgindade, como se uma mulher que já não seja virgem não possa ser levada a sério. Busca-se uma ilusão: até que não me ponha o anel ou não me ofereça garantias, não te dou meu corpo. Parece uma manipulação da sexualidade. Só ofereço meu corpo em troca de algo. Gostaria que as jovens percebessem outras coisas mais importantes, como exigir o respeito de suas emoções e corpos, mas por outras razões que não têm nada a ver com essa ideia de “mulher que já está usada”.
A tarefa educativa para frear este flagelo do machismo é enorme. E, ou começamos a trabalhar sério, ou continuaremos lamentando muitas mortes a cada ano.
Fonte:https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/01/estilo/1472708056_951781.html
Aulas sobre "masculinidade" diminuem índices de violência contra a mulher
Para pesquisadores, meninos devem ser ensinados sobre os aspectos positivos da masculinidade desde o Ensino Fundamental
1 min de leitura
- REDAÇÃO GALILEU
10 JUN 2019 - 09H20 ATUALIZADO EM 10 JUN 2019 - 09H20
Pesquisadores ressaltam a importância de serem ensinados os aspectos positivos da masculinidade (Foto: Pixabay)
Aulas sobre os aspectos positivos da "masculinidade" diminuem índices de violência contra a mulher, de acordo com uma análise feita nos Estados Unidos. Pesquisadores chegaram à conclusão após fazerem experimento com alunos do Ensino Fundamental.
Após uma série de atividades envolvendo a questão, os garotos mostraram entender melhor os problemas do uso de coerção e violência nas relações. Além disso, o programa mudou as crenças da turma sobre atitudes violentas, incluindo assédio e violência sexual.
"A maioria das pesquisas sobre violência sexual concentra-se em estudantes do Ensino Médio e Superior, mas pesquisas mostram que essas formas de violência também prevalecem entre estudantes do Ensino Funtamental", disse Victoria Banyard, principal autora do estudo, em comunicado.
As aulas icluem quatro sessões de uma hora que exploram a normalização, a difusão e a natureza nociva dos pressupostos papeis de gênero. Os meninos envolvidos no programa aprenderam sobre empatia, relacionamentos saudáveis, violência baseada em gênero e receberam treinamento para saber como reagir ao presenciarem agressões físicas.
"Ao se concentrar em expressões positivas de masculinidade, como a capacidade de ser respeitoso nos relacionamentos, este programa ajuda os meninos a encontrar maneiras positivas de prevenir a violência", contou Banyard.
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