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Artigo

Conheça Marilena Chauí
24/04/2020 Não informado

Crédito da foto: Revena Olinda (doutoranda em filosofia na Universidade de São Paulo)

 

Marilena de Souza Chaui é professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. No final dos anos sessenta, envolvida nas pesquisas que culminariam na sua tese de doutorado sobre o pensamento de Baruch de Espinosa, passou dois anos na Universidade de Clermont-Ferrand, sob a orientação de Victor Goldschmidt. Nessa temporada na França, vivenciou intensamente a efervescência revolucionária dos movimentos estudantis de maio de 1968, assistiu à aula inaugural de Herbert Marcuse e acompanhou os primeiros cursos de Michel Foucault e de Gilles Deleuze na Universidade Paris-VIII, instituição fundada com a perspectiva de promover uma reinvenção da ideia de universidade. Talvez não seja exagero afirmar que seus trabalhos nas últimas décadas, tanto no campo da filosofia quanto no das ciências humanas, tenham sido profundamente marcados por essa experiência da possibilidade da revolução, uma experiência que, ao nos seduzir para um futuro completamente imprevisível, pode ser comparada, segundo a própria autora, a uma grande paixão amorosa (CHAUI, 2003a, 2014).

Em seu retorno ao Brasil, em 1969, colocou-se na linha de frente da resistência contra a ditadura militar no interior da universidade. Marilena Chaui e outros poucos professores que não foram cassados pelo regime ou que não optaram pelo exílio, como Gilda de Mello e Souza e Maria Sylvia de Carvalho Franco, assumiram as atividades acadêmicas necessárias para a preservação do debate intelectual no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Chaui criou um estilo de reflexão sobre as questões políticas, sociais e culturais que, alinhavando uma arguta e sensível percepção da realidade nacional, o acervo teórico da história da filosofia e um rigoroso método de análise dos textos, permitiu a ela, aos seus alunos e aos seus leitores, compreender e questionar os mais diversos discursos autoritários e ideológicos (LOUREIRO, 2011).

Muitas das suas reflexões partem dos acontecimentos cotidianos, como a notícia sobre um ato de violência, a censura de um filme ou o surgimento de um novo romance. Essa maneira de trabalhar nunca foi uma unanimidade entre os filósofos. Ao contrário, normalmente, as pesquisas em filosofia tratam apenas dos temas e dos textos clássicos. Sua postura como filósofa e intelectual, todavia, é fiel à sua formação. No seu mestrado, investigando as críticas que Merleau-Ponty dirige ao humanismo, Chaui tem acesso aos estudos de Claude Lefort sobre esse autor. Nos textos desses dois filósofos, ela percebe a mesma relação apaixonada com a filosofia (CHAUI, 2003a). Ao responder às solicitações do mundo e, mais ainda, ao elaborar reflexões capazes de instigar paixões e pensamentos, Chaui mantém viva essa relação apaixonada com a filosofia.

As condições históricas do país e do meio acadêmico, especialmente nos anos setenta e oitenta, contribuíram para que suas pesquisas se abrissem para um profícuo diálogo com filósofos, sociólogos, antropólogos, educadores, artistas e representantes de vários setores da sociedade. Além de colaborarem na expressão conceitual das reflexões dos seus interlocutores, seus textos compartilham referências bibliográficas, temas, perspectivas críticas e questões inquietantes (RIZEK, 2011).

Em livros que ajudaram a formar pessoas de diferentes gerações, tais como O que é ideologia, Cultura e democracia: o discurso competente eoutras falas e Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular, Chaui analisa a dominação ideológica, o autoritarismo das elites, a burocratização das instituições, a massificação cultural e a mercantilização da educação. Mais recentemente, uma série de ensaios dos em diversos periódicos originaram as seguintes coletâneas: Escritos sobre a universidade; Simulacro e poder: uma análise da mídia; Contra a servidão voluntária; Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro eA ideologia da competência. Alguns dos temas discutidos nesses livros são retomados no Convite à filosofia, ção voltada para o ensino médio, vencedora, em 1995, do Prêmio Jabuti na categoria Didáticos. Sua grande obra sobre Baruch de Espinosa, A nervura do real, recebeu, em 2000, esse mesmo prêmio, na categoria Ciências Humanas.

Na entrevista que se segue, pautada em grande medida pela reedição do artigo “Ideologia e Educação”, texto que tem como base uma conferência realizada em 1979, Chaui retoma alguns elementos do seu percurso acadêmico. A partir da análise das suas experiências como aluna, nos anos sessenta, e como docente, do mesmo Departamento de Filosofia, nos anos setenta, ela critica as reformas universitárias feitas pela ditadura. Entre outras mudanças, os vestibulares passaram a ser unificados e os cursos tiveram um aumento do número de disciplinas e de horas-aula. Sem uma ampla reforma das escolas públicas que garantisse a qualidade do ensino fundamental e do ensino médio, os vestibulares unificados, ao não admitirem vagas ociosas, acabaram gerando uma massificação do ensino superior(CHAUI, 2003b). Por outro lado, o aumento do número de disciplinas e de horas-aula dos cursos produziu umaescolarização da universidade, retirando dos alunos e dos professores o tempo necessário para a formação e a pesquisa. Essas reformas visaram a adaptar a universidade às exigências do mercado de trabalho, preparando os estudantes para uma rápida inserção profissional. Foi nesses termos, afirma Chaui, que a ditadura inventou a universidade funcional.

Após a ditadura, essa universidade funcional transformou-se numauniversidade de resultados e, posteriormente, na atualuniversidade operacional. Nesses três modelos organizacionais, a formação e a pesquisa estão relacionadas à aquisição e à transmissão de conhecimentos já instituídos. Fecha-se, assim, qualquer abertura para um pensamento que possa dialogar com o acaso e o desconhecido (MATOS, 2011). Para Chaui, quando um pensamento não procura se debruçar sobre experiências novas, quando não procura pensar o que ainda não foi pensado, e não ousa dizer o que ainda não foi dito, ele não é, de fato, um pensamento: ele é uma ideologia.

Em vários sentidos, o trabalho de Marilena Chaui indica uma perspectiva de resistência a esses modelos organizacionais de universidade, mas ele também oferece perspectivas de resistência a outros discursos autoritários e ideológicos. Essa resistência, como mostra a entrevista, aparece, nos anos setenta, na sua participação no Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), instituto voltado para a pesquisa e o debate sobre os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da realidade brasileira, e reaparece, no final dos anos oitenta, em suas atividades à frente da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, quando Chaui propôs e implementou a ideia de uma cidadania cultural. Percorrendo inúmeros momentos da vida e da carreira dessa autora, a entrevista apresenta um retrato do seu instigante trabalho de pensamento.

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022016000100259

 

Roda Viva | Marilena Chauí | 03/05/1999

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