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Conheça Vik Muniz
Vik Muniz – Onde estamos registrando nossas histórias?
Daqui 70 anos, você olhará para sua foto e ela será a mesma de quando você tinha 20 anos. Graças ao Photoshop. Onde a sua história está sendo documentada? Até onde este simples exemplo individual pode ser expandido a mudanças sérias na forma com que nossa sociedade lida com seu próprio passado? Vik Muniz traz esta importante reflexão para nós. Uma transformação cujas consequências, diz ele, já podem ser vistas na política e nas relações humanas. Onde estamos baseando nossas memórias? Será o fim dos registros daquilo que vivemos?. Suas obras, reconhecidas pela criatividade na escolha de materiais inusitados, estão expostas nos principais museus de arte, como o Metropolitan, o Whitney e o MoMa, em Nova York, e o Reina Sofia, em Madrid. Ao mesmo tempo em que figura na lista dos 100 artistas mais valorizados do planeta, a produção de Vik tem apelo popular e social, o que o levou a se tornar embaixador da Boa Vontade da Unesco e desenvolver variados projetos pelo Brasil.
As 10 criações mais impressionantes de Vik Muniz
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Vik Muniz é um artista plástico brasileiro reconhecido internacionalmente que trabalha com materiais inusitados. Chocolate, feijão, açúcar, manteiga de amendoim, leite condensado, molho de tomate, gel para cabelo, geleia e produtos reaproveitáveis são algumas das suas principais matérias-primas.
Suas criações carregam uma forte preocupação social e com o futuro do meio ambiente. Instalado nos Estados Unidos desde a sua juventude, atualmente os trabalhos de Vik Muniz estão espalhados pelos quatro cantos do planeta.
Conheça agora algumas das suas principais criações.
1. Lampedusa
A instalação criada em 2015 e apresentada na Bienal de Veneza é uma dura crítica feita pelo artista as políticas europeias contra a abertura da fronteira aos refugiados.
O barco, feito simulando uma dobradura infantil e supostamente construído a partir de ampliações de jornais, foi disposto num dos principais canais de Veneza e lembrava os espectadores da morte de refugiados que encontravam-se na costa italiana.
2. John Lennon
O cantor inglês, ícone do pop, membro dos Beatles, ganhou um retrato feito a partir do café. Os grãos são responsáveis por definir o seu contorno e o seu cabelo enquanto os olhos são representados por um par de xícaras cheias.
Vik Muniz consegue criar uma belíssima peça com apenas quatro elementos: o fundo liso, os grãos, as xícaras e o café pronto dentro delas. Após ser criada, a instalação foi fotografada e então exibida em mostras.
3. Double Mona Lisa (Peanut butter and jelly)
Nesse trabalho, Vik Muniz recriou a obra clássica de Leonardo da Vinci, a Monalisa. Mas ao dar forma a misteriosa moça escolheu dois elementos particulares e bastante cotidianos: a geleia de uva e a manteiga de amendoim. Apenas com essas duas matérias-primas e um fundo branco liso, o artista foi capaz de dar corpo a pintura. O trabalho foi realizado em 1999 e tem as seguintes dimensões: 119,5 x 155 cm.
O uso de materiais inesperados e efêmeros para a composição das peças é justificado pelo próprio artista:
“A arte é sobretudo a habilidade de olhar para uma coisa e enxergar outra”.
4. Sugar children
A série Crianças de açúcar, criada em 1996, alçou Vik Muniz para a fama. Esse foi o seu primeiro trabalho a ter repercussão e a levá-lo a ser reconhecido internacionalmente. As imagens são de crianças caribenhas oriundas de famílias pobres que cortam canas de açúcar nas plantações em St. Kitts.
Vik fotografou essas crianças e depois reconstituiu os contornos usando somente açúcar, elemento que faz parte do cotidiano desses jovens. O açúcar é uma referência tanto a doçura e a pureza das crianças como ao material que as condena a pobreza.
A respeito da criação, Vik Muniz conta em entrevista os bastidores da ideia:
"O Sugar Children” tem muito a ver com a fotografia, já que o açúcar é um cristal e a fotografia é um cristal prateado exposto à luz. É uma série pontilhista feita com açúcar sobre papel preto e depois fotografada em prata de gelatina. Isso desencadeou algo muito importante. Em 1992, passei as férias na ilha de St. Kitts e brincava com as crianças locais em uma praia de areia preta. Estas eram crianças de plantações de açúcar. No meu último dia eles me levaram para conhecer seus pais e me surpreendeu o quão tristes e cansados eles estavam. Como essas crianças se tornaram esses adultos? Concluí que a vida tirara sua doçura deles. Esses retratos em açúcar agora estão em várias coleções importantes, mas também na pequena biblioteca da escola infantil de St. Kitts. Eu devo muito a essas crianças."
5. The Bearer Irma
O trabalho acima foi realizado em 2008 no lixão de Gramacho, baixada do Rio de Janeiro. O aterro sanitário escolhido por Vik Muniz como cenário de uma das suas mais importantes criações foi o maior lixão a céu aberto da América Latina.
No local, Vik contou com a ajuda dos catadores de lixo que já habitualmente trabalhavam em Gramacho. Primeiro fotografou-os, depois, com material recolhido no próprio lixão, montou as fotografias em dimensões gigantes num depósito próximo. Todo o projeto foi registrado e deu origem ao consagrado documentário Lixo extraordinário.
6. Track brawl
Criada em 2000, Track brawl atualmente pertence a consagrada coleção The Frick Pittsburgh.
A fotografia, com 61cm x 50,8cm de dimensões, é intitulada de modo literal (a tradução para o português seria "briga de pista") e representa, literalmente, uma disputa entre dois indivíduos em cima dos trilhos de um trem.
7. Paparazzi
A obra Paparazzi faz parte de uma coleção composta a partir de xarope de chocolate da marca Bosco. Esse trabalho foi posterior ao das crianças de açúcar, quando Vik começou a despertar o olhar para materiais inesperados. Vale lembrar que Hitchcock usou xarope de chocolate Bosco para realizar a famosa cena do chuveiro porque o sangue real não era suficientemente sangrento na tela.
Ao contrário da série produzida a partir do açúcar, que podia levar muito tempo para ser confeccionada, nas peças produzidas com chocolate o artista precisava ser rápido, caso contrário, ficaria seco e sem o brilho necessário.
8. Che, à maneira de Alberto Korda
O ícone cubano Che Guevara ganhou contornos bastante peculiares ao ser reproduzido por Vik Muniz a partir de feijão enlatado. O sujeito que ficou marcado como o retrato da revolução cubana foi reinterpretado com feijões porque o alimento é uma comida típica de Cuba.
A peça foi criada no ano 2000 e é grande, trata-se de uma impressão com 150,1 cm por 119,9 cm.
9. Principia
O objeto criado em 1997 que foi batizado com o nome de Principia possui 18,1 cm por 27,6 cm e é composto por fotografias, vidro estereoscópico, madeira e couro.
Muniz criou uma série com 100 objetos idênticos numerados, um deles encontra-se no MAM do Rio de Janeiro e foi doado pelo Clube de Colecionadores de Gravura MAM de São Paulo.
10. Torre Eiffel
A criação, datada de 2015, faz parte da série Postcards from nowhere. A representação de Paris feita a partir do olhar de Vik Muniz ganha contornos completamente diferentes porque o trabalho é todo realizado a partir de recortes de cartões postais.
Na peça foram utilizados centenas de cartões da cidade luz que, colados, compõem a célebre paisagem da capital francesa.
A capa do CD Tribalistas feita por Vik Muniz
A capa do CD “Tribalistas” (2002) foi feita com calda de chocolate. O artista plástico foi convidado pelo trio para dar a cara do álbum que se tornou icônico na música brasileira.
Vik Muniz conta sobre os bastidores da criação e sobre a encomenda feita pelos por Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Brown:
Afinal, quem é Vik Muniz?
Vicente José de Oliveira Muniz, conhecido no meio artístico apenas como Vik Muniz, nasceu em São Paulo no dia 20 de dezembro de 1961. De origem humilde, o pai do artista era garçom e a mãe telefonista, Vik foi basicamente criado pela avó até imigrar para os Estados Unidos, onde acabou por desenvolver seu trabalho nas artes plásticas.
É possível encontrar obras de Vik Muniz em grandes cidades como Paris, Los Angeles, São Francisco, Madri, Tóquio, Moscou e Londres (na capital da Inglaterra há peças suas tanto no Victoria & Albert Museum quanto no Tate Modern).
No Brasil há trabalhos expostos no MAM de São Paulo e em Minas Gerais, no Museu do Inhotim.
Autorretrato feito por Vik Muniz com pedaços de papel.
O documentário Lixo extraordinário (Waste Land)
A criação retrata a viagem feita por Vik Muniz da sua segunda casa - os Estados Unidos - para o Brasil. O artista resolve desenvolver um trabalho a partir do Jardim Gramacho, o maior depósito de lixo a seu aberto da América Latina.
O filme foi um sucesso de público e crítica chegando a ser indicado ao Oscar. O documentário recebeu o prêmio do público nos festivais de Sundance e Berlim.
Cartaz do filme Lixo Extraordinário.
Quem ajudou Vik Muniz nessa empreitada artística foram os catadores, trabalhadores de recolhem material reciclável. Os trabalhadores foram fotografados e as imagens foram reproduzidas em escala gigante, a partir do material coletado no próprio lixão.
O cineasta responsável pelo documentário foi Lucy Walker.
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