Artigo
Cultura Da Vaidade E Consumo
Yves Joel Jean Marie Rodolphe de La Taille é um educador e psicólogo francês naturalizado brasileiro.
É Professor Titular do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da (USP). Ministra aulas de Psicologia do Desenvolvimento e desenvolve suas pesquisas na área de Psicologia Moral (desenvolvimento moral
Desde a década de 1980 investiga o desenvolvimento moral, tornando-se um dos especialistas mais respeitados do país nessa área. Nesse seminário ele discute sobre a cultura da vaidade de consumo que começa no imaginário infantil e acompanha o indivíduo até a fase adulta.
https://youtu.be/8YDuCVaOwrQ
MITO DE MIDAS
O toque de Midas ", ao qual existem algumas alusões na cultura ocidental, é talvez o detalhe mais conhecido deste mito. Contudo, acho que vale a pena dedicar alguns minutos a referir, de forma geral, os seus contornos, por razões que serão mais tarde referidas: As aventuras deste rei começaram após conhecer um dos mais famosos discípulos de Dioniso . Possivelmente sob a influência dos desígnios deste deus, Sileno tinha-se perdido do resto do séquito. Assim, o famoso monarca da Frígia ajudou-o a reencontrar o deus, feito pelo qual lhe foi atribuída a possibilidade de realizar um único desejo. De forma obviamente irrefletida, o rei Midas adquiriu a habilidade de transformar tudo aquilo em que tocasse em ouro. Assim, o monarca estava impedido de ingerir qualquer espécie de alimentos, tornando a sua própria filha numa enorme estátua dourada. Com novo auxílio do deus do vinho, toda a normalidade seria reposta, tendo o monarca compreendido o que realmente importa na vida. Infelizmente, a sua aventura não terminou por aqui. Mais tarde, este famoso habitante da Frígia seria testemunha de um concurso de música entre Pã e Apolo. Contrariamente aos outros juízes, o rei admitira a (estranha?) superioridade de Pã Assim, insultado com uma tão ridícula decisão, o deus da medicina e da música transformou as orelhas de Midas nas de um burro, uma aparência que talvez lhe servisse melhor. Após uma metafórica traição de Pã e alguma vergonha pública, o monarca teria as suas orelhas originais de volta, mas não sem que tivesse aprendido a sua lição. A história do Rei Midas é, apesar da sua aparente simplicidade, um rico exemplo da Mitologia Grega e das lições que esta nos pode transmitir. Motivado pela tão humana avareza, tentou adquirir o dom da riqueza infinita, sem compreender o valor da própria vida e dos detalhes que a ela nos ligam. Poderia ter todo o ouro do mundo, mais jamais poderia voltar a tocar aqueles que amava ou comer um único alimento, o que levaria à sua morte. Felizmente compreendeu a lição, e o benevolente deus do vinho e da vinha ajudá-lo-ia a resolver os seus problemas. Ainda assim, a burrice deste rei levá-lo-ia a um outro problema. Ao optar por um jocoso Pã em detrimento do mítico Apolo, cujos dotes musicais eram simplesmente lendários, este rei teria um castigo que lhe seria merecido. É importante referir que não se sabe a totalidade das razões que levaram Midas a tomar uma tal decisão, mas foi possivelmente irrefletida, tendo em conta a diferença de qualidade entre os dotes das duas divindades. De forma geral, o mito deste Midas (muitos outros existiam nessa altura) é um interessante apelo à reflexão humana. Toda e qualquer decisão leva o ser humano para um determinado caminho, que é sempre consequência dos seus atos. Assim, o famoso rei foi, de forma clara, uma vítima das suas escolhas. Esta é a interpretação mais básica, mais clara do mito, mas leva-nos a uma problemática já anteriormente retratada - a existência do Destino, das Moiras. Grande parte dos mitos greco-romanos falam-nos da crença na sua existência, o que impediria que os seres humanos efetivamente tomasse decisões sobre a suas próprias vidas. Visto deste ângulo, Midas era um simples boneco nas mãos do Destino, nada mais. Há que reparar, ainda assim, na ausência de uma profecia. Mitos como o de Édipo apresentam, de forma clara, o trabalho das Moiras, mas fazem-no ao apresentar uma profecia que acaba por ser, mais cedo ou mais tarde, cumprida. Obviamente que isso não sucede aqui, permitindo-nos teorizar que nem todos os Gregos e Romanos acreditavam no Destino. Fonte: http://mitologia.blogs.sapo.pt/49974.html