O transplante de órgãos e tecidos é uma técnica cirúrgica que tem por finalidade substituir um órgão doente por um sadio. A transferência de células, tecidos ou órgãos de uma pessoa (o doador) para a outra (o receptor), muitas vezes significa a única chance de sobrevivência daquele que recebe a doação. Os transplantes estão entre os procedimentos mais complexos da medicina. Um único doador pode salvar ou melhorar a vida de mais de 25 pessoas, se todos os órgãos e tecidos forem aproveitados corretamente. O primeiro transplante bem sucedido de um órgão humano foi realizado em 1954, em Boston, nos Estados Unidos. Dez anos depois, em 1964, era o Brasil que fazia o primeiro transplante. Desde então, o país avançou muito nas técnicas cirúrgicas dos transplantes, sendo referência internacional para muitos países. Além das novas técnicas, que permitiram o transplante de vários órgãos e tecidos, a medicina hoje dispõe de vários medicamentos que evitam a rejeição e aumentam a sobrevida do órgão transplantado. Atualmente, vários órgãos e tecidos podem ser transplantados como rins, coração, pulmão, fígado, pâncreas, córneas, válvulas cardíacas, ossos, pele, tendões e medula óssea. Alguns transplantes podem ser realizados entre pessoas vivas como o de rins, fígado e medula óssea. Brasil: grande em número de transplantes e de pessoas na fila de espera O Brasil tem o maior programa público de transplantes de órgãos do mundo, que paga 92% das cirurgias realizadas. Em número de transplantes feitos por ano, só perde para os Estados Unidos. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), no primeiro trimestre de 2012 foram realizados 1.839 transplantes de órgãos, 9.303 de tecidos e 420 de medula óssea. Apesar do sucesso do programa brasileiro, mais de 70 mil pessoas aguardam na fila do transplante. Muitas acabam morrendo enquanto esperam. Dois motivos explicam essa situação: a falta de conscientização sobre a importância de doar órgãos e os aspectos técnicos da captação. Segundo o Sistema Nacional de Transplantes 70% dos órgãos que deveriam ser aproveitados são desperdiçados. A recusa familiar é grande: 25% das famílias dizem não. Problemas com transporte, infraestrutura e manipulação correta dos órgãos respondem a 17% desse desperdício. Outro dado alarmante é que apenas metade das mortes encefálicas é comunicada pelos hospitais à Central Nacional de Captação de Órgãos (CNCDO). Para se ter uma ideia das dificuldades logísticas, apenas os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco possuem aeronaves dedicadas ao transporte de órgãos. Os demais estados contam com as companhias áreas privadas, que realizam o transporte gratuitamente, em voos comerciais. Alguns órgãos sobrevivem muito pouco tempo fora do corpo e isso explica também o alto índice de desperdício.
Mitos e verdades em torno da doação de órgãos
Agora que você já sabe o que é a doação de órgãos e a importância desse ato de solidariedade, entenda melhor os mitos e verdades que envolvem a doação, a captação e o transplante de órgãos no Brasil. Preciso deixar por escrito que quero ser um doador? Não, não é necessário registrar a vontade de doar seus órgãos em caso de falecimento. O importante é deixar claro para os familiares a sua intenção. A Lei 10.211 de 23 de março de 2001 substituiu a doação presumida pelo consentimento informado do desejo de doar. Ou seja, antes da lei era possível deixar registrado nos documentos de identidade a doação. Atualmente somente a família pode autorizar. Qualquer pessoa pode doar? A doação de órgãos e tecidos em caso de óbito não tem limite de idade, justamente porque crianças, bebês, jovens e adultos são candidatos a receber os órgãos, que precisam ser compatíveis não só sanguineamente, como também fisicamente. Entretanto, para alguns órgãos há um limite de idade e também depende das condições de saúde. A doação entre pessoas vivas é feita com pessoas que tenham até o quarto grau de parentesco. Se não for parente, somente com uma autorização judicial. Pessoas com doenças contagiosas como AIDS, hepatite B e C e outras condições não podem ser doadoras. O que é morte encefálica? Alguns órgãos são vitais como o coração, o pulmão e o cérebro. Entretanto, o único órgão que não pode ser mantido mecanicamente, ou seja, por aparelhos, é o cérebro. A morte encefálica é a definição legal da morte, quando todas as funções neurológicas estão ausentes. É completa e irreversível. Como é o cérebro que comanda toda e qualquer função do corpo, o coração e o pulmão só funcionam após a morte encefálica porque estão sendo mecanicamente estimulados. Isso quer dizer que as máquinas realizam artificialmente a respiração e o batimento cardíaco, mas não há mais nenhuma circulação de sangue no cérebro. Como o médico poderá saber se a pessoa teve morte encefálica ou está em coma? O coma e a morte encefálica são condições totalmente diferentes. No coma o paciente apresenta atividade cerebral e fluxo sanguíneo, além de conseguir respirar sem a ajuda de aparelhos, em alguns casos. Mas, para atestar a morte encefálica são realizados três exames: duas provas clínicas, feitas com mais de seis horas de diferença, por dois médicos diferentes. É realizado ainda um exame gráfico como a angiografia cerebral, a cintilografia ou outro exame que mostre a circulação de sangue no cérebro. Somente após esses exames é possível declarar a morte encefálica. Como é feita a abordagem para a doação? Os hospitais devem contar com equipes intra-hospitalares de transplantes ou profissionais treinados para identificar um potencial doador. Normalmente, os doadores são pacientes que sofrem acidentes com traumatismo craniano ou até mesmo um acidente vascular cerebral. Mas é uma condição que pode variar muito. Após a constatação da morte encefálica, o médico irá abordar a família sobre a decisão de desligar os aparelhos ou pensar na doação dos órgãos. Se a família consente, além de uma série de procedimentos formais, como a assinatura de um termo de autorização, a equipe médica começa uma corrida contra o tempo, já que muitos órgãos precisam ser transplantados em poucas horas. Como é feita a escolha do receptor dos órgãos? Uma vez que a família autoriza, a Central Nacional de Captação vai checar a fila de espera e realizar uma série de exames para verificar a compatibilidade dos órgãos. Muitas vezes, os órgãos irão para estados diferentes e assim cada estado conta com uma central estadual de captação. A prioridade é para os pacientes mais graves e compatíveis. Como o ente querido falecido é devolvido à família? Pela lei vigente no país, o hospital deve realizar os procedimentos da retirada dos órgãos assim que possível para liberar o corpo à
família. Após a cirurgia para retirar os órgãos e tecidos, a equipe cirúrgica deve deixar o corpo preservado, nem nenhum sinal de alteração para o sepultamento.
Saiba Mais
Em 2009, a Associação Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE) realizou uma pesquisa e constatou que 64% da população brasileira, quando perguntada, doaria seus órgãos para transplante. Mas apenas 39% dos entrevistados alegaram já ter conversado com a família sobre essa possibilidade. Portanto fica claro a importância da discussão do tema na sociedade em geral, como nas escolas, faculdades, empresas. Além da doação de órgãos, a doação de sangue e de medula óssea também são importantes na medicina e podem salvar milhões de vida. O Brasil tem hoje o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. São dois milhões de inscritos no Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (REDOME). Esse banco serve quando o paciente não apresenta nenhuma compatibilidade com parentes próximos. A chance de encontrar uma medula compatível é, em média, de uma em cem mil. O transplante de medula óssea é usado quando nenhum outro método terapêutico é capaz de curar a doença. É indicado em leucemias e outras doenças do sangue. Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos, com boa saúde, pode doar. O procedimento para retirada da medula é feito em um centro cirúrgico e o doador poderá voltar as suas funções em cerca de três dias. O material retirado é recomposto pelo organismo em apenas 15 dias. Já para o receptor pode significar a diferença entre a vida e a morte. Para quem se interessa em doar, a dica é procurar o Hemocentro da cidade. Além do cadastro dos dados, o possível doador será submetido a testes de sangue para identificar as características genéticas, que podem influenciar no transplante. Esse teste é chamado de HLA ou teste de histocompatibilidade. Uma vez cadastrado no REDOME, quando o médico necessitar de um doador fará um cruzamento de dados e se identificar o doador o mesmo será chamado.