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'Em Busca De Um Lar': Campanha Incentiva Adoção De Crianças Mais Velhas No Df
'Em busca de um lar': campanha incentiva adoção de crianças mais velhas no DF
Projeto da Vara da Infância e Juventude usa imagens de crianças fora do perfil clássico. Das 110 crianças e adolescentes que esperam por adoção na capital, 80% têm entre 10 e 18 anos incompletos.
Por Brenda Ortiz, G1 DF
26/01/2020 20h11 Atualizado há 8 meses
Rutieli tem 14 anos e participa do projeto "Em Busca de um Lar" da Vara da Infância e Juventude do DF — Foto: VIJ-DF/Divulgação
No Distrito Federal, 570 pessoas – ou famílias – estão habilitadas para adoção neste começo de 2020. Do outro lado, nas instituições de acolhimento, cerca de 110 crianças e adolescentes esperam para ser adotadas.
A maioria delas, no entanto, não se encaixa no perfil pretendido pelos adultos cadastrados pelo Judiciário. Cerca de 80% têm entre 10 e 18 anos incompletos e, segundo a Vara da Infância e Juventude do DF (VIJ-DF), 90% dos pretendentes ainda buscam menores de 3 anos para adotar.
Com o objetivo de incentivar a adoção de crianças mais velhas, a VIJ-DF realiza a segunda edição da campanha "Em Busca de um Lar". Criada em 2019, a iniciativa mostra, por meio de vídeos e fotos, os rostos de meninos e meninas que desejam ter uma família.
A ideia, segundo a vara, é mostrar que, mesmo "fora dos padrões", essas crianças e adolescentes querem ser adotados.
Conforme o supervisor da VIJ-DF Walter Gomes, em 2019 cinco adolescentes e pré-adolescentes encontraram novas famílias por meio da campanha. Outros cinco pretendentes à adoção aceitaram ampliar a idade do filho que buscavam.
"Nós avaliamos que foi um projeto de grande êxito, que sensibilizou famílias ao desafio de adotar crianças e adolescentes com perfis mais difíceis. Foi um passo ousado, mas deu certo."
Walter afirma que o desafio, em 2020, é continuar trabalhando e prol da chamada adoção tardia, ou seja, de crianças mais velhas e de adolescentes que crescem nas instituições.
Crianças em abrigo, em imagem de arquivo — Foto: Caio Kenji/G1
Motivos do desinteresse
De acordo com a Vara da Infância e Juventude, os motivos principais para a falta de interesse nas crianças que estão aptas para a adoção são:
- Idade
- Número de irmãos
- Problemas de saúde
De acordo com o supervisor da VIJ, o "perfil clássico" procurado pelas famílias ainda é de recém-nascidos saudáveis e sem irmãos.
"Achar crianças habilitadas para adoção, nesse perfil, leva a um tempo de espera muito longo, porque existe uma fila de espera", afirma Walter Gomes.
"Se uma família se interessa por um perfil mais amplo, é possível iniciar um estágio de convivência mais rapidamente."
Ele diz ainda que o DF tem 21 grupos de irmãos, entre dois e seis membros, para serem adotados. "Nos últimos três anos, tivemos uma adoção de grupos de seis irmãos. Vamos continuar apresentando essas crianças e adolescentes com muito carinho e esperança para as famílias que pretendem adotar".
"A família, os pais, chegam com muitas exigências, mas as crianças que querem ser adotadas não tem exigência nenhuma. Elas só querem um família com amor e que as proteja."
Renata e Bernardo com os filhos Davi (11), Samira (10), Raphael (6) e Gabriel (4) — Foto: Arquivo pessoal
Como funciona o projeto?
Os vídeos e fotos das crianças e adolescentes que participam do "Em busca de um lar" são divulgados pela Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal nas redes sociais. A família que se interessar precisa estar habilitada para a adoção.
É necessário passar por todo processo de preparação psicossocial e estágio de convivência, "passos essenciais para a adoção de qualquer criança ou adolescente", explica o judiciário.
"A Justiça precisa proteger essas crianças. Não pode ser qualquer família", aponta Walter.
"Adotar não é fazer um test-drive. As crianças que estão nos abrigos já têm histórias de muito sofrimento. Elas precisam de uma família marcada pelo afeto."
Os irmãos Everton e Kauã fizeram parte do projeto "Em busca de um lar"em 2019 e foram adotados — Foto: VIJ-DF/ Divulgação
No Brasil
De acordo com a Vara da Infância e Juventude, no Brasil existem 42 mil famílias habilitadas para a adoção. Já o número de crianças e adolescentes que esperam um lar está em torno de 4,8 mil.
Segundo Walter Gomes, existe um movimento em todo o país com o objetivo de dar visibilidade a essas crianças e adolescentes com perfis preteridos.
"Tudo o que essas crianças querem é conhecer e fazer parte de uma família que os aceite como filhos e filhas. Alguém para chamar de pai e mãe."