Artigo
Especial Pantanal
PANTANAL: o rastro de destruição do fogo que já devastou 21% do bioma
Desde o início do ano até domingo (20), a área queimada no Pantanal alcançou 3.179.000 hectares, o equivalente a 21,2% do bioma. Apesar de ter a menor parte do Pantanal, Mato Grosso é o estado mais devastado, com 1.941.000 hectares.
Fonte: https://youtu.be/ENZyAaV8tqg
Brigadistas viajam cerca de 4.000 km para combater queimada histórica no Pantanal
São 12 homens, quase todos agricultores assentados, vindos de três municípios do interior do Piauí: Alvorada do Gurgueia, Uruçuí e Floriano. Com contratos temporários, ganham cerca de R$ 1.400 por mês. Por estarem fora do Piauí, recebem uma diária extra de R$ 140.
Fonte:https://youtu.be/_nQ1Z4KRgDI
Fogo no Pantanal, rios secos no Paraguai e o colapso climático em curso
Por toda a América do Sul, florestas queimam e rios secam por conta da alta histórica na temperatura e do aumento agressivo das queimadas, deixando quilômetros de mata nativa devastada. E isso vai muito além das queimadas no Pantanal, revelando um quadro de colapso climático que não encontra fronteiras.
Fonte: https://youtu.be/Upml6B9lIg8
A busca pelos animais feridos em meio ao fogo no Pantanal
Fonte: https://youtu.be/fmK4raw1pO8
Os animais com queimaduras tratados com pele de tilápia no Pantanal
Fonte: https://youtu.be/a8TRID29Ols
Incêndios no Pantanal: as extraordinárias imagens dos animais queimados tratados com pele de tilápia
- Juliana Gragnani - @julianagragnani
- Da BBC News Brasil em Londres
9 outubro 2020
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Pata de um tamanduá-bandeira com pele de tilápia; diversos animais ficaram feridos por causa de incêndios no Pantanal
Esta reportagem tem imagens de animais feridos que podem ser incômodas para algumas pessoas.
Parece uma cena futurista: um tamanduá-bandeira, com seus grossos pelos marrons, estende as patas estampadas com... pele de tilápia.
O híbrido, no entanto, é de 2020. No ano em que o Pantanal ardeu em chamas e teve diversos de seus animais feridos e queimados, pesquisadores e veterinários se uniram para ajudar esses bichos por meio de uma técnica inovadora e totalmente brasileira. O bioma brasileiro rico em biodiversidade teve 27% do seu território consumido pelo fogo até 11 de outubro deste ano, segundo dados do Lasa-UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), e essas queimadas são consideradas as piores em décadas.
Até agora, um filhote de veado-catingueiro, duas antas adultas, uma anta filhote, um tamanduá-bandeira adulto e uma cobra sucuri já receberam a pele de tilápia. E um tuiuiú, a ave-símbolo do Pantanal, está na fila para o tratamento.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Pata de tamanduá-bandeira com pele de tilápia; técnica foi desenvolvida no Ceará e ensinada agora para quem está cuidando dos bichos no Pantanal
A técnica, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), funciona assim: os pesquisadores recebem peles do peixe de água doce - que normalmente são descartadas pela indústria - de uma piscicultura. As peles são então desidratadas e esterilizadas, e ficam armazenadas em temperatura ambiente.
Depois, são aplicadas em pessoas ou animais com ferimentos de queimadura, funcionando como um curativo para a região queimada e ajudando sua cicatrização.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Um quarto da área do Pantanal já queimou neste ano, destruindo a vegetação e matando e ferindo animais
"A pele da tilápia tem uma camada muito grande de colágeno, que é importante no processo de cicatrização da queimadura", explica o biólogo Felipe Rocha, coordenador da Missão Ajuda Pantanal e pesquisador do projeto Pele de Tilápia.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Bioma vive a pior seca nas últimas décadas
Rocha viajou a Cuiabá, capital matogrossense, ao lado da veterinária Behatriz Odebrecht e do enfermeiro Silva Júnior, especialista em manejo e aplicação do curativo de pele de tilápia - todos do projeto Pele de Tilápia.
Quando viram as trágicas imagens de animais afetados pelo fogo no Pantanal, os pesquisadores da UFC entraram em contato com a ONG Ampara, que dá apoio à operação de resgate e reabilitação dos animais no Pantanal.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Filhote de anta recebeu pele de tilápia nesta semana
A ONG aceitou a ajuda, e colocou o grupo em contato com o Hospital Veterinário da Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá, onde a aplicação das peles de tilápia seria feita. Ali, o pessoal do Ceará começou a treinar, nesta semana, a equipe do Mato Grosso, explicando como se faz a aplicação do produto na pele dos bichos.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Filhote de anta com pele de tilápia nesta semana; a pele impede a perda de líquidos e alivia a dor do animal
O grupo levou 130 curativos biológicos da pele de tilápia, o que, segundo seus cálculos, deve servir para cerca de 40 animais feridos.
No Brasil, é a primeira vez que essa técnica é usada em animais silvestres. O grupo da UFC já havia testado a pele em cavalos. Também ensinou veterinários da Universidade Davis, na Califórnia, a aplicar a pele em ursos que foram machucados nos incêndios de 2018 no Estado americano.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Pele de tilápia que seria descartada pela indústria é usada por pesquisadores para ajudar a cicatrizar queimaduras
Tratamento dos animais
A imagem futurista do tamanduá-tilápia é passageira. Logo, a parte clara, que é o colágeno, ficará incorporado na ferida. A parte escura descascará, como se fosse a casca de uma ferida, explica Rocha. E a pele do tamanduá e dos outros animais voltará a ter sua aparência original.
O pesquisador explica como é feito o tratamento: "Você limpa a ferida, coloca a pele de tilápia e fecha com gaze e atadura por cima. A pele da tilápia adere à queimadura e deve ficar em contato de 10 a 15 dias na pele do animal sem troca curativa", diz.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Anta, que teve traseiro bastante ferido, recebeu pele de tilápia para ajudar seu processo de cicatrização
O processo convencional seria aplicar pomada de sulfadiazina de prata, que um cicatrizante tópico na terapia de queimaduras, com trocas diárias de curativo. É preciso sedar os animais selvagens toda vez para fazer isso.
"Se a cicatrização do animal demora de 15 a 20 dias, você tem que fazer 15 a 20 curativos durante todo o processo. Com a pele de tilápia, você reduz o custo de fazer essas trocas diárias, reduz a dor do animal e reduz a carga de trabalho da equipe", diz Rocha.
Além disso, destaca ele, o animal ou a pessoa queimada perde muito líquido com a queimadura. A pele da tilápia barra esse processo. Sua parte escura é como se fosse uma película impermeável que impede a perda de líquido. E ainda cria uma barreira para que microorganismos não proliferem na ferida.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Veado-catingueiro teve ferimentos por queimadura nas quatro patas, onde recebeu as peles de tilápia
Com isso, a cicatrização acelera porque não se manipula tanto a ferida - além da grande ajuda do colágeno. Para Rocha, é "emocionante" ver os animais se recuperando.
O grupo começou a aplicação das peles de tilápia nos animais na terça-feira (06/10). O primeiro animal a receber os curativos foi um filhote de veado-catingueiro. Suas quatro patas estavam queimadas, e os curativos foram colocados ali.
Depois, foi a vez de duas antas grandes adultas e uma anta filhote. Uma das antas, diz Rocha, estava muito mal, sem se alimentar, apática, sem ir para a água. Sua parte traseira estava bastante afetada. "Aplicamos nessa anta, e no outro dia ela estava dentro da água. Depois saiu correndo e foi para a água de novo. Não vimos o processo de cicatrização, mas vimos que o animal já reagiu em termos de comportamento", conta. "A pele de tilápia diminui a dor do paciente."
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Pele de tilápia já havia sido usada em ursos, na Califórnia, e agora é usada em animais silvestres no Brasil
Depois, um tamanduá-bandeira recebeu a pele de tilápia em suas patas.
"Nas quatro patas do veado-catingueira, não usamos nem meia pele de tilápia", diz Rocha. Já em uma das antas, que tinham uma lesão grande, foram usadas 15 peles.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
O biólogo Felipe Rocha integrou uma equipe de três pessoas da Universidade Federal do Ceará que viajou para ensinar a técnica a profissionais no Pantanal
A cobra sucuri, que recebeu a pele de tilápia , estava bastante queimada, diz ele, com exposição muscular, e por isso a aplicação foi um grande desafio. "Mas acreditamos que vai funcionar." No tuiuiú, é a asa que está queimada.
CRÉDITO,FELIPE ROCHA/DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,
Cobra foi bastante exposta ao fogo e teve queimaduras com exposição muscular
Para Rocha, ajudar os animais que estão sofrendo "é uma enorme satisfação". "Ficamos felizes e emocionados por ajudar nesse momento triste do país", afirma.
O Pantanal vive a pior seca dos últimos 60 anos, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o principal fator para os incêndios em níveis alarmantes neste ano. Além disso, analistas dizem que parte do fogo é causada também por ação humana. E entidades ambientais criticam o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e os governos estaduais pela demora em agir para controlar o fogo. Em discurso na ONU, o presidente disse que o fogo no Pantanal foi provocado pela temperatura alta em 2020 e pelo "acúmulo de massa orgânica em decomposição".
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54479940
As imagens da luta dos animais pela vida no Pantanal em chamas
- Vinícius Lemos - @oviniciuslemos
- Da BBC News Brasil em São Paulo
22 setembro 2020
CRÉDITO,FRICO GUIMARÃES/DOCUMENTA PANTANAL
Legenda da foto,
Macaco-prego se alimenta com mamão distribuido por voluntários no Pantanal
Um macaco-prego em busca de comida. Um filhote de cervo solitário em tratamento. Uma onça-pintada descansando na sombra de uma árvore, em meio à destruição de seu habitat.
Estas são algumas das cenas presenciadas no atual cenário do Pantanal, considerado santuário da biodiversidade.No bioma, que enfrenta seu pior período de incêndios das últimas décadas, os animais lutam para sobreviver. Diante da vegetação tomada pelo fogo e com a pior seca da história recente, muitas espécies têm dificuldades para encontrar alimentos e água.
Até a semana passada, o fogo havia atingido mais de 2,9 milhões de hectares do Pantanal, segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). O número representa cerca de 19% do bioma no Brasil, conforme o Instituto SOS Pantanal.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já foram registrados mais de 16,1 mil focos de calor (que costumam representar incêndios) no Pantanal. É o maior número desde que a entidade começou o monitoramento que se tornou referência, no fim da década de 90.
No fim de semana, houve registros de chuva no bioma. Apesar disso, as autoridades locais afirmaram que mantêm a situação de alerta na região.
Desde o início deste mês, grupos de voluntários de todo o país, entre eles biólogos e médicos veterinários, se uniram no Pantanal para ajudar os animais atingidos pelo fogo. Além de resgatar bichos feridos, eles também distribuem frutas e água para espécies em risco.
Na semana passada, o fotógrafo Frico Guimarães e o biólogo Gustavo Figueirôa, da SOS Pantanal, registraram diversos momentos que ilustram as dificuldades dos animais em meio à tragédia que atinge o bioma, localizado nos Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso — há áreas também na Bolívia e no Paraguai.
Frico e Gustavo compartilharam algumas dessas imagens com a BBC News Brasil e detalharam os momentos em que elas foram feitas.
A busca por alimento
CRÉDITO,FRICO GUIMARÃES/DOCUMENTA PANTANAL
Legenda da foto,
Antes de se aproximar de voluntários para pegar fruta, macaco-prego estava assustado, relata fotógrafo
O macaco-prego que abre a reportagem foi encontrado perto do Posto de Atendimento a Animais Silvestres (Paeas) Pantanal, iniciativa criada no fim de agosto pela Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), com o apoio de servidores estaduais e voluntários.
O posto está localizado na rodovia Transpantaneira, via que liga a cidade de Poconé (MT) à região de Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul.
"Esse posto funciona como um oásis no meio do caos causado pela atual seca do Pantanal. Ali, há muitos alimentos e água distribuída em cochos. Então, aparecem diversos animais", explica Frico.
O fotógrafo relata que avistou macacos chegando aos poucos no posto, em busca de frutas. "Eles pegaram as frutas que estavam no chão, dispostas para os animais", conta. Segundo ele, o macaco que aparece na foto estava curioso e assustado com a presença de diversos voluntários na região.
"Mas ainda assim, ele estava com fome, pegou o pedaço de mamão e foi para uma cerca, isolado. Depois de comer a fruta, olhou para as pessoas e foi embora", relata Frico.
Dificuldades para encontrar comida
CRÉDITO,GUSTAVO FIGUEIRÔA/SOS PANTANAL
Legenda da foto,
Em intensa busca por alimento, macaco-prego não encontrou comida em margem de rio
Em outra região do Pantanal, o biólogo Gustavo Figueirôa também encontrou macacos-prego. Ele navegava pelo Rio São Lourenço, com outros voluntários, quando avistou animais da espécie. "Estávamos fazendo uma incursão pelo rio, para ver as consequências dos incêndios. Em uma margem, vimos um grupo de macacos, em cima de uma árvore muito seca."
"Esses macacos tentaram comer um broto seco, mas não conseguiram. Eles ainda morderam alguns troncos secos, mas não conseguiram se alimentar", diz o biólogo. Enquanto acompanhava a busca por alimentos, ele fotografou os animais.
Figueirôa relata que os macacos-prego foram embora após insistente busca por comida no local. "Não havia nada que eles pudessem comer ali", explica o biólogo.
O lago seco
CRÉDITO,FRICO GUIMARÃES/DOCUMENTA PANTANAL
Legenda da foto,
Quati busca por comida em meio ao cenário de seca no Pantanal
O primeiro animal fotografado por Frico quando chegou ao Pantanal, no início da semana passada, foi um quati. "Estávamos na Transpantaneira quando avistamos uma família de seis quatis na beira da estrada, entrando para o que deveria ser um pequeno leito de alagado. O local estava completamente seco (em razão do baixo índice de chuva no Pantanal neste ano)", diz.
O fotógrafo relata que os quatis, que são onívoros, buscavam alimentos. "A gente acompanhou essa família por algum tempo. Em certo momento, dois deles encontraram pequenas presas", relata o fotógrafo.
Nas proximidades do local em que os quatis buscavam comida, Frico avistou um jacaré morto, na área que deveria estar alagada.
O recomeço
CRÉDITO,FRICO GUIMARÃES/DOCUMENTA PANTANAL
Legenda da foto,
Filhote de cervo encontrado solitário recebe acompanhamento de voluntários
Na base do Paeas, Frico encontrou um filhote de cervo que estava em recuperação. "Ele, assim como outros animais por lá, estava em tratamento. Esse cervo era muito amigável e carinhoso. Ele estava solto na sala em que recebia o acompanhamento dos veterinários", diz.
"Ele pode ter perdido a família, porque o pessoal não sabia dizer onde estava a mãe dele, que normalmente estaria dando os cuidados ao filho, que ainda é pequeno", acrescenta o fotógrafo.
Segundo Frico, o animal tinha um hematoma no rosto. "Não souberam dizer como apareceu, mas não era algo como uma queimadura. Ele estava sendo tratado. Provavelmente, conseguirá retornar à natureza em breve", relata.
A arara-azul
CRÉDITO,FRICO
Legenda da foto,
Arara-azul encontrada em pousada da região. Fazenda que tinha grande concentração da espécie no Pantanal foi duramente afetada pelo fogo.
Na árvore de uma pousada da Transpantaneira, Frico avistou uma arara-azul. "Há várias aves que fazem ninhos por ali", diz.
As araras-azuis tiveram uma grave perda em meio aos incêndios do Pantanal. A Fazenda São Francisco do Perigara, em Barão de Melgaço, no Pantanal mato-grossense, teve mais de 90% de seus quase 25 mil hectares atingidos pelo fogo.
A propriedade rural é considerada o local com a maior concentração da espécie para dormitório no país. Antes dos incêndios, ela abrigava cerca de 700 dessas araras em suas árvores.
A espécie — a maior arara do mundo — é um dos símbolos do Pantanal. De acordo com estudos, a região concentra a maior população remanescente, cerca de 5 mil das 6,5 mil que ainda existem livres na natureza em território brasileiro.
O tuiuiú e a ariranha
CRÉDITO,FRICO GUIMARÃES/DOCUMENTA PANTANAL
Legenda da foto,
Tuiuiu se alimenta com peixe que encontrou no Pantanal
Enquanto navegava pela região de Porto Jofre, no Pantanal mato-grossense, Frico encontrou um tuiuiú, também considerado um dos símbolos do Pantanal. "Ele estava comendo uma carcaça de peixe."
"O tuiuiú, que costuma ser arisco, estava muito calmo. Chegamos relativamente próximo a ele, a cerca de sete metros, mas ele não teve nenhuma reação, pois estava focado em comer o peixe", diz Frico.
CRÉDITO,FRICO GUIMARÃES/DOCUMENTA PANTANAL
Legenda da foto,
Ariranha se alimenta em rio
Ainda navegando pela região de Porto Jofre, o fotógrafo avistou uma ariranha. "Ela também estava comendo um peixe", diz.
"Diferente do que a espécie costuma fazer, a ariranha não tentou fugir quando nos aproximamos. Ela continuou comendo o peixe. Isso pode ser considerado incomum, porque esses animais costumam ser ariscos e se escondem na água (quando um grupo se aproxima)", relata o fotógrafo.
Ele conta que notou que muitos animais no Pantanal, assim como o tuiuiú e a ararinha, demonstram cansaço e fraqueza, por isso não costumam reagir quando os voluntários se aproximam.
A onça-pintada
CRÉDITO,GUSTAVO FIGUEIRÔA/SOS PANTANAL
Legenda da foto,
Nas proximidades de parque tomado por fogo, onça-pintada descansa embaixo de sombra
Enquanto navegava pelo Rio São Lourenço, Gustavo Figueirôa avistou uma onça-pintada, nas proximidades do Parque Estadual Encontro das Águas, considerado o lugar com a maior concentração desses felinos do mundo.
Até a semana passada, cerca de 85% dos 108 mil hectares do parque, localizado em Porto Jofre, foram tomados pelo fogo, segundo o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso. Em 11 de setembro, um felino foi resgatado no local e levado para passar por tratamento com células-tronco, porque estava com as patas queimadas.
Enquanto navegava com voluntários pelas proximidades da reserva destruída pelas queimadas, na semana passada, Figueirôa se deparou com o atual cenário no lugar. "Em anos anteriores, o parque estava verde. Desta vez, está devastado. A situação está muito feia", lamenta.
Em períodos anteriores, era comum ver muitas onças nas proximidades do parque. No entanto, o biólogo revela que neste ano não tinha esperanças de encontrar um felino na região, em virtude das atuais condições do lugar.
Figueirôa conta que se surpreendeu ao avistar um felino próximo ao parque. "Essa onça parecia estar bem, sem nenhum ferimento. Como a vegetação foi destruída, ela estava aproveitando a sombra de uma das árvores que restaram por ali."
O biólogo permaneceu distante do animal e registrou a cena. "Foi uma sensação de alívio e esperança, em meio ao cenário devastado", relata.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54221702
As histórias por trás de 3 fotos dos incêndios no Pantanal que viralizaram
- Vinicius Lemos
- Da BBC Brasil em São Paulo
19 setembro 2020
CRÉDITO,AILTON LARA
Legenda da foto,
Foto de onça-pintada no Parque Estadual Encontro das Águas, no Pantanal, viralizou nas redes sociais
Os incêndios que atingem o Pantanal têm repercutido em todo o mundo. O pior período de queimadas das últimas décadas do bioma causa preocupação. Nas redes sociais, o assunto tem sido compartilhado inúmeras vezes.
Em meio à maior tragédia recente do bioma, a flora e a fauna da região têm sofrido intensamente.
O fogo já atingiu mais de 2,9 milhões de hectares do Pantanal, segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). O número representa cerca de 19% do bioma no Brasil, conforme o Instituto SOS Pantanal.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já foram registrados 15,4 mil focos de calor (que costumam representar incêndios) no Pantanal. É o maior número desde que a entidade começou o monitoramento que se tornou referência, no fim da década de 90.
Os animais lutam para sobreviver, enquanto a vegetação é devastada pelas queimadas. Muitos moradores da região enfrentam dificuldades financeiras e de saúde, situação agravada pelo duro cenário da pandemia do coronavírus.
Milhares de pessoas têm compartilhado fotografias que ilustram o atual período enfrentado pelo bioma, localizado nos Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso — há também área na Bolívia e no Paraguai.
As imagens compartilhadas de modo massivo nas redes sociais mostram situações como o avanço do fogo no bioma, animais carbonizados ou severamente machucados e a vegetação devastada pelas queimadas.
Os compartilhamentos das imagens costumam estar acompanhados de mensagens de revolta sobre a situação.
A BBC News Brasil selecionou três fotografias que viralizaram nas redes sociais. Para entender as histórias por trás dessas imagens, que ilustram a tragédia no Pantanal, a reportagem conversou com os autores delas.
Uma onça-pintada caída
A imagem que abre esta reportagem foi feita pelo guia de turismo Ailton Lara, dono da pousada Jaguar Camp, na rodovia Transpantaneira, via que liga a cidade de Poconé (MT) à região de Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul.
A fotografia, feita na semana passada, mostra uma onça-pintada deitada no Parque Estadual Encontro das Águas, considerado o local com a maior concentração de onças-pintadas do mundo.
Localizado na região de Porto Jofre, em Poconé, o parque está quase completamente tomado pelos incêndios. Até esta sexta-feira (18), segundo o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, cerca de 92 mil hectares do lugar, de um total de 108 mil, foram destruídos pelo fogo.
Lara conta que navegava pela região do Pantanal, em busca de animais feridos pelo fogo, junto com amigos da Associação Civil de Ecoturismo no Pantanal Norte (Aecopan). "Estávamos atuando como voluntários, para ajudar animais que precisassem de ajuda, nas regiões atingidas pelo fogo", diz à BBC News Brasil.
Quando se aproximaram do Parque Encontro das Águas, avistaram uma onça-pintada macho. "O animal estava perto da água, mas depois da nossa chegada caminhou por três ou quatro metros e foi para baixo da sombra de uma árvore, à beira do rio. Ficamos por um tempo com o barco desligado ali, sempre mantendo distância da onça, em respeito ao animal."
Enquanto estavam parados no parque, Lara fotografou o felino. Ele relata que o animal estava com as patas suspensas, porque parecia não conseguir encostá-las no chão. "Normalmente, as onças deixam as patas no solo. Por isso, logo descobrimos que o animal estava com as patas queimadas, por isso não as aproximava do chão", relata.
Segundo o guia de turismo, a expressão da onça-pintada na imagem que viralizou é de dor. "O animal estava passando por um momento muito doloroso. Ele colocava a cabeça entre as pernas e depois ficava deitado de um jeito incomum. Isso chamou a nossa atenção", detalha.
Ele relata que as pessoas que estavam no barco não tinham equipamentos para resgatar o animal. Por isso, chamaram os médicos veterinários que atuam de modo voluntário na região. "O problema é que a onça se levantou, depois de algum tempo, saiu dali e adentrou a mata. Infelizmente, não foi possível resgatá-la", diz.
"O animal caminhou lentamente, enquanto foi embora, e pareceu estar com dor. No dia seguinte, voltamos à mesma região, os veterinários encontraram rastros do felino em meio às cinzas, mas ele não estava mais nas proximidades", diz Lara.
Desde então, não há notícias do animal. "Espero que essa onça esteja bem agora", afirma Lara.
Até o momento, foram feitos, ao menos, dois resgates de onças-pintadas afetadas pelo fogo do Pantanal. Há relatos de felinos que foram avistados com problemas nas patas, mas os voluntários não conseguiram resgatá-los.
A imagem feita por Lara ao avistar o felino foi compartilhada de modo intenso nas redes sociais. Há quase 80 mil curtidas em uma das ções da fotografia no Twitter. "Espero que essa foto da onça-pintada sirva para mobilizar as pessoas a preservarem o meio ambiente e a se preocuparem com a natureza, que é um bem de todos", diz o guia de turismo.
A destruição no parque de onças-pintadas
CRÉDITO,GUSTAVO FIGUEIRÔA/SOS PANTANAL
Legenda da foto,
Imagem que mostra devastação em Pantanal teve mais de 160 mil reações no Facebook nos últimos dias
Outra imagem que viralizou também foi feita no Parque Estadual Encontro das Águas. Por meio de um drone, o biólogo Gustavo Figueirôa, do Instituto SOS Pantanal, registrou a atual situação do lugar.
A fotografia foi feita na tarde de terça-feira (15/09), pouco após Gustavo chegar ao Pantanal para acompanhar a situação do bioma. Na imagem que viralizou, é possível ver o cenário do parque, após ter mais de 85% de sua área destruída pelos incêndios.
"Quando subi o drone para fazer a imagem, foi um choque muito grande. Estive no parque no ano passado e o cenário era diferente, porque estava tudo verde. Era um lugar muito bonito e agora está cinza", diz à BBC News Brasil.
Ele classifica a situação do parque como desoladora. "Aquele local é o lar de muitos animais, principalmente de muitas onças pintadas... De repente, acabaram todos os recursos dali para as presas das onças. Além dos animais que morreram afetados diretamente pelo fogo, há também os que podem ser afetados indiretamente (pela falta de alimento)", lamenta.
O biólogo comenta que se sentiu mal após registrar a imagem. "Foi um sentimento estranho, de não acreditar naquilo. Mas naquele momento, pude entender a dimensão do que está acontecendo", diz.
Figueirôa morou no Pantanal em 2014 e costuma visitar a região anualmente. "Já vi muitas queimadas no Pantanal em anos anteriores, mas nunca tinha visto algo como neste ano. É muito desolador", declara.
A imagem feita pelo biólogo causou comoção. Em uma das ções mais populares, a fotografia teve mais de 160 mil reações no Facebook — sendo a de tristeza a mais comum.
O pantaneiro e o fogo
CRÉDITO,BRUNA OBADOWSKI/A LENTE
Legenda da foto,
Registro de pantaneiro no barco e com incêndios ao fundo foram compartilhados por diversas vezes nas redes sociais
A cena de um homem em um barco com incêndios de grandes proporções ao fundo também repercutiu nas redes. O momento foi registrado pela jornalista e fotógrafa Bruna Obadowski, em 5 de setembro.
O homem, conhecido como Tião, trabalha há anos carregando turistas em seu barco, na região do Pantanal. "Ele está praticamente parado há mais de três meses. O Tião está desolado com a atual situação do bioma", relata Bruna.
A jornalista foi ao Pantanal para colher depoimentos para o site A Lente, no qual trabalha. Na região, conversou com diversas pessoas. Após almoçar em um restaurante, Tião a carregou, junto com outro fotógrafo que a acompanhava, para mostrar a tragédia das queimadas.
"Ele disse que a situação era muito grave e fazia questão de nos levar de barco pelo Rio São Lourenço. Até então, eu não tinha visto a proporção dos incêndios próximos às margens do rio", relata Bruna.
A jornalista conta que Tião mostrou as áreas mais atingidas pelo fogo nas margens do rio. "Ele estava desolado, porque o rio, o barco e o turismo são o ganha-pão dele", diz Bruna, que também ficou desolada com a situação do bioma.
Ela relata que, a princípio, não planejava fotografar Tião. Porém, logo mudou de ideia. "Eu achei os relatos dele bem impactantes. Então, comecei a fazer fotos. À medida em que a gente conversava, eu fazia novos registros", detalha.
A fotografia de Tião foi compartilhada diversas vezes nas redes sociais. Ela teve mais de 10 mil curtidas em um post no Twitter do cantor Luan Santana, no qual foram das quatro fotos sobre as queimadas no Pantanal. O músico também compartilhou a imagem no Instagram, onde tem mais de 28,8 milhões de seguidores — a rede não permite a visualização de números de curtidas de outros perfis.
Bruna acredita que a fotografia de Tião viralizou porque representa a atual situação do Pantanal. "É uma imagem que mostra como o pantaneiro, que costuma guiar todos, é vítima das queimadas."
"Essa foto é uma representação do Pantanal em chamas. O Tião é um pantaneiro tradicional, que vive da pesca e turismo. Ele não tem conseguido pescar, porque há poucos peixes. E não há turistas para andar no barco dele", diz a fotógrafa.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54213943
Queimadas no Pantanal: avanço do fogo ameaça santuário de araras azuis
- Camilla Veras Mota - @cavmota
- Da BBC News Brasil em São Paulo
13 agosto 2020
CRÉDITO,EDSON DINIZ
Legenda da foto,
Pantanal concentra maior população de araras azuis do mundo
O fogo que consome o Pantanal desde julho avança e coloca em risco um dos maiores abrigos de araras azuis do país.
Cerca de 700 animais hoje usam as árvores espalhadas pela fazenda São Francisco de Perigara, no município de Barão de Melgaço, no Mato Grosso, como refúgio.
Todo fim de tarde, conta a bióloga Neiva Guedes, dezenas de araras se reúnem ali para pernoitar. Isso acontece há quase 60 anos, desde que o então dono da propriedade resolveu cercar e proteger o local.
É a maior concentração de animais da espécie para dormitório no país.
Quando Guedes começou a estudar a arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus), 30 anos atrás, o futuro dessa ave estava em perigo.
O trabalho da pesquisadora na região pantaneira ajudou a tirá-la do Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção do Brasil — o que aconteceu em 2014.
Hoje, ela teme que as queimadas cada vez mais intensas no Pantanal prejudiquem as araras.
CRÉDITO,EDSON DINIZ
Legenda da foto,
População de araras na fazenda cresceu de 234 para 708 em 15 anos
'Vegetação seca vira uma pólvora'
As queimadas atingiram a fazenda São Francisco no dia 1º de agosto e, segundo a bióloga, boa parte da propriedade foi consumida pelas chamas.
Com o tempo bastante seco e o nível baixo dos rios do entorno, as equipes que têm se dedicado a combater o incêndio — Corpo de Bombeiros, brigadistas, Forças Armadas, funcionários da fazenda e do Sesc Pantanal — têm grande dificuldade para controlá-lo.
"O fogo é muito rápido. A vegetação seca vira uma pólvora", diz a bióloga, que é presidente do Instituto Arara Azul. "Só vai acabar quando queimar tudo ou quando chover."
O esforço da equipe tem sido para proteger pontos importantes na propriedade, como a sede da fazenda, onde as aves se reúnem para dormir.
A situação melhorou na quinta-feira (13/08) e, logo que ela se estabilize, os pesquisadores do instituto, que há 15 anos monitora essa área, vão avaliar os estragos. O temor é que o fogo tenha destruído parte dos 50 ninhos espalhados pela propriedade, sendo 20 artificiais e 30 naturais.
Na região, 94% dos ninhos naturais desta ave são instalados em cavidades existentes do tronco do manduvi (Sterculia apetala), árvore que pode alcançar 35 metros de altura.
As araras azuis não conseguem abrir sozinhas as cavidades, então elas dependem de árvores de grande porte e velhas para se reproduzirem — por isso o projeto trabalha com ninhos artificiais.
Quando consome o manduvi, o fogo restringe os locais onde as araras podem colocar seus ovos. Elas passam ainda a disputar o espaço remanescente com outras espécies - as abelhas também buscam as cavidades para construírem suas colmeias.
A morte vegetação do entorno reduz ainda a oferta de alimentos para as aves, que costumam comer as castanhas de acuri e bocaiúva, duas espécies típicas do Cerrado.
CRÉDITO,LUCIANO CANDISANI
Legenda da foto,
Araras também se alimentam dos frutos regurgitados pelo gado criado de forma extensiva na propriedade
Rastro de destruição
A bióloga conhece bem os estragos que o fogo pode causar. No ano passado, os incêndios florestais no Pantanal consumiram parte de outro local importante para as araras — a fazenda Caiman, em Miranda, no Mato Grosso do Sul.
Depois da passagem das chamas, que queimou inclusive alguns ninhos com filhotes, os pesquisadores chegaram a ver as araras comendo frutos queimados.
Diante da restrição alimentar, outras espécies passaram a caçar as aves, como jaguatiricas, iraras, cachorros do mato e algumas corujas. O mais comum é que os ovos, e não os animais adultos, sejam atacados — por tucanos, gralhas, gambás, gaviões.
"A gente nunca viu tanta arara adulta ser predada", diz ela.
Passado um certo período, algumas aves começaram a apresentar uma lesão na cloaca, uma ferida — o que a bióloga acredita ter sido resultado do estresse pelo qual os animais haviam passado.
De Campo Grande, onde vive, Guedes está em contato direto com as equipes locais que atuam nas fazendas do Pantanal e, agora, com as brigadas que tentam controlar o fogo na fazenda.
E acompanha apreensiva os mapas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que monitoram com imagens de satélite a evolução das queimadas.
Desde que começou a monitorar a região da fazenda, 15 anos atrás, ela viu o número de indivíduos da espécie no local saltar de 234 a 708, tendo chegado a mais de mil no período entre 2013 e 2015. Desde 2010, foram observados nascimentos de 60 filhotes na propriedade.
Apesar de ter saído da lista de animais em extinção, a arara azul continua sendo considerada uma espécie vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza.
A degradação do habitat e o comércio ilegal das araras estão hoje entre os principais risco para as populações.
A espécie — a maior arara do mundo — é um dos símbolos do Pantanal, e não por acaso. A região concentra a maior população remanescente, cerca de 5 mil das 6,5 mil que ainda existem livres na natureza em território brasileiro.
CRÉDITO,BRIGADISTA PERDIGÃO
Legenda da foto,
Imagem enviada por um dos brigadistas à bióloga: quando a situação estiver controlada, equipe vai fazer avaliação dos danos causados pelo fogo
Maior tragédia ambiental em décadas
Para Guedes, as temporadas de incêndios cada vez mais agressivas no Pantanal tem relação direta com a devastação da região amazônica.
O desmatamento, afirma, tem mudado o regime de chuvas na área. O período de seca está ainda mais seco, o facilita a propagação dos incêndios.
A fazenda São Francisco está localizada na região que concentra um dos piores focos de queimadas no Pantanal neste momento. Além de Barão do Melgaço, Poconé, onde fica o Sesc Pantanal, tem sido duramente atingido.
Especialistas temem que as condições que forjaram o pior período de queimadas desde o fim dos anos 90 — uma dura seca — seja o "novo normal" e coloque em risco o bioma da região.
O regime de chuvas é um fator fundamental para a existência do Pantanal, que se espalha entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e entra pela Bolívia e Paraguai. Na maior planície alagada do mundo vivem cerca de 4,7 mil espécies de plantas e animais.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53773584