Artigo
HANS JONAS
Ciência e a Ética da Responsabilidade
A Ética da Responsabilidade apresentada por Hans Jonas difere das éticas tradicionais de filósofos que o antecederam, como Aristóteles e Kant. A ética de Hans Jonas vai além da moralidade de valores sociais ou da Política. Filósofos como Nicolau Maquiavel, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e René Descartes eram antropocentristas: o universo era avaliado de acordo com sua relação com o ser humano. Isto é, o homem era colocado em primeiro plano.
A obra de Hans Jonas, O Princípio Responsabilidade, publicada em 1979, aborda os problemas sociais e éticos criados pelos avanços tecnológicos. Hans Jonas demonstra a necessidade de haver uma nova ética para lidar com o alcance sem precedentes do poder tecnológico. Jonas trata de uma ética que impõe limites ao processo tecnológico, especialmente à luz do perigo iminente que novas tecnologias possam causar.
Antes do advento do mundo moderno, a responsabilidade pela integridade e continuidade da vida na terra não recaía sobre o ser humano: a natureza cuidava de si mesma. O homem não possuía a capacidade de alterar de forma significativa o meio em que vivia e, assim, impactar futuras gerações. Contudo, a relação do ser humano com a natureza e o mundo mudou drasticamente. Com o desenvolvimento da tecnologia, a natureza se tornou vulnerável: passou a ser destruída pela humanidade. À medida que ocorrem inovações tecnológicas, formas mais poderosas de tecnologia são desenvolvidas. A tecnologia vem estendendo o alcance do poder humano muito além da capacidade humana de prever as consequências dos avanços tecnológicos. Jonas aborda as grandes transformações causadas pela tecnologia: o perigo nuclear, a destruição do planeta, o consumo desenfreado de recursos naturais e a Engenharia Genética. Para Jonas, as relações entre conhecimento humano, poder tecnológico, responsabilidade e ética são complicadas e fundamentais. Na visão do filósofo, o mundo precisa que os seres humanos tomem conta dele - um fato sem precedentes na história. Os seres humanos precisam trabalhar para garantir o bem-estar de futuras gerações.
Hans Jonas desenvolveu a Ética da Responsabilidade ao pensar em consequências futuras. O filósofo atribuiu ao ser humano a responsabilidade pela manutenção da natureza e pela garantia do bem-estar e da existência de futuras gerações.
Em O Princípio Responsabilidade, Jonas enfatiza que a sobrevivência da humanidade depende de esforços para cuidar do planeta e, assim, assegurar seu futuro. Na visão de Jonas, a origem da crise do meio ambiente é o desenvolvimento científico e tecnológico desenfreado, desprovido de uma conduta ética estruturada para servir como guia. Segundo o filósofo, recai sobre o ser humano a responsabilidade ilimitada de preservar a vida na terra. Essa responsabilidade é total e contínua.
O que significa responsabilidade ilimitada? Exemplificando: pais são responsáveis por seus filhos de forma limitada e temporária: a responsabilidade dos pais em relação aos filhos geralmente termina quando estes se tornam adultos. Contudo, de acordo com Jonas, a responsabilidade do homem em relação à natureza é ilimitada, pois nunca cessa. O avanço da tecnologia precisa ser condicionado para garantir a continuidade da vida no planeta.
Hans Jonas formulou o novo princípio de moralidade: “Age de tal forma que os efeitos de tuas ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra".
Segundo o princípio de responsabilidade de Jonas, não se pode sacrificar o futuro pelo presente: se a humanidade se preocupar apenas com o presente, o futuro pode deixar de existir. A ética proposta por Hans Jonas inclui a responsabilidade por futuras gerações. Esse tipo de responsabilidade não pode ser uma relação recíproca, pois é direcionada às gerações futuras. É uma responsabilidade por pessoas que ainda não nasceram, inclusive por seres humanos que habitarão a terra após todos que hoje estão vivos já terem morrido. Portanto, trata-se de uma responsabilidade que não pode ser reciprocada.
Jonas não vê com bons olhos a Tecnociência: o filósofo critica uma ciência que seja desumanizada. Jones discute a Bioética e os deveres que o ser humano tem consigo, com o meio ambiente e com a posteridade. O filósofo defende a necessidade de uma ciência com ética. Em O Princípio Responsabilidade, Jonas aponta para a ampliação da enorme distância entre a enorme capacidade tecnológica do ser humano e a diminuição da sensibilidade moral humana.
Em seu livro, Técnica, Medicina e Ética, Hans Jonas volta a tratar do tema da vida e dos desafios e ameaças lançadas pela Ciência e pela técnica. Hans Jonas pondera sobre a necessidade de formular novos critérios éticos para lidar com as novas relações entre a natureza e a Ciência. Trata-se de um campo de conhecimento muito novo e, portanto, a ética tradicional não teria como ter abordado essas questões.
A capacidade e os avanços tecnológicos criam questões éticas que concernem a própria natureza do ser humano. Os temas são polêmicos, como a engenharia genética do ser humano.
O filósofo acreditava que a Ciência e a técnica não devem progredir antes de o homem ponderar os efeitos da tecnologia na própria natureza da humanidade. Os avanços no campo da Medicina e da Biotecnologia fizeram com que o ser humano se tornasse potencialmente um objeto manipulável. Isso levanta a questão: qual o limite dos experimentos com seres humanos? O que restará do ser humano se ele for “melhorado” pela Engenharia Genética? Jonas lida com temas graves: por exemplo, será que o homem pode se “recriar inventivamente”?
O filósofo acreditava que a maior ameaça à evolução é a Engenharia Genética, que permite que seres humanos interfiram no processo natural da evolução e passem a manipular o código genético para promover um “aperfeiçoamento” da espécie humana. Os impactos da Engenharia Genética a longo prazo ainda não são conhecidos.
Uma tecnologia cada vez mais sofisticada afeta e altera o mundo natural, inclusive a capacidade alarmante de alterar elementos fundamentais da vida, como o material genético, que foi resultado de bilhões de anos de evolução. Jonas acredita que as consequências de tais tecnologias terão repercussões cumulativas.
A natureza da Ciência mudou fundamentalmente. A tecnologia se desenvolveu muito e continuará a se desenvolver até chegar a tal ponto que suas consequências excedam o conhecimento que o ser humano possui delas. As repercussões ainda estão por vir. Jonas pede uma reflexão crítica sobre tais tecnologias.
A ética deve impor limites à Ciência, sobretudo se o progresso científico ameaçar a manutenção da vida na terra ou apresentar consequências desconhecidas.
Jonas argumenta que a nova ética da responsabilidade deve incorporar a noção de cautela e a projeção de consequências negativas ao impor limites à atuação da Ciência e da tecnologia.
Jonas afirmou que o ser humano tende a acreditar que a inovação e o progresso são fenômenos indiscutivelmente positivos. Contudo, essa percepção prejudica a capacidade de desenvolver uma crítica contundente e uma ética em relação às novas tecnologias. É necessário considerar o poder de destruição inerente à Ciência. Portanto, a Ética deve se posicionar criticamente contra qualquer avanço científico que ameace a continuidade da vida.
Fonte: https://www.educabras.com/aula/hans-jonas