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Mulheres Na Política
O melhor país do mundo para as mulheres na política?
Cindy SuiBBC News, Taipei
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19 maio 2016Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTsai Ing-wen vai virar a primeira presidente mulher de Taiwan
Na sexta-feira, Tsai Ing-wen vai virar a primeira presidente mulher de Taiwan.
Esta nunca foi uma grande ambição para a ex-professora de direito apaixonada por gatos. Mas ela acabou se tornou, virtualmente, um exemplo único entre as líderes femininas do sudeste asiático.
Ao contrário da presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, da ex-presidente das Filipinas Corazon Aquino e da ex-primeira-ministra da Tailândia Yingluck Shinawatra, ela não está seguindo os passos de um pai, irmão ou marido que estava em uma posição de poder.E isso não é incomum em Taiwan.
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Image captionParticipação de mulheres na política em Taiwan está acima da média
Muitas das políticas de Taiwan, incluindo a ex-vice presidente Annette Lu, a prefeita da cidade de Kaohsiung, Chen Chu, e a líder do partido Kuomintang, Hung Hsiu-chu, chegaram ao poder sem vir de uma família de políticos.
As mulheres também brilham no Parlamento de Taiwan, onde é comum ver imagens de mulheres liderando as discussões.
Após as eleições de janeiro, o país tem agora um recorde de 38% da casa composto por mulheres, o que coloca Taiwan à frente de países asiáticos, da média mundial de 22% e da maioria dos países no mundo, incluindo o Reino Unido, Alemanha e os EUA.
No Brasil, por exemplo, as mulheres compõem 10% da Câmara e 13% do Senado.
Mas então, por que apenas 4 dos 40 membros do gabinete de Tsai são mulheres?
A polêmica traz ecos da discussão despertada no Brasil pela ausência de mulheres no gabinete ministerial do presidente interino Michel Temer - que estariam representando mais de 50% da população do país.
Em Taiwan, o porta-voz do governo culpou a carência de mulheres experientes no partido, por este ter ficado fora do poder por muitos anos, e o fato de mulheres terem sido eleitas para outros postos. Ele também disse que algumas mulheres recusaram convites para o gabinete.
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Image captionA ex-candidata a Presidência Hung Hsiu-chu chegou ao liderança do partido do Kuomintang sem vir de famílai de políticos
Uma delas, a ex-ministra da Fazenda Ho Mei-yueh, de 65 anos, me disse que havia dedicado 33 anos de sua vida ao governo, colocando suas próprias necessidades em segundo plano enquanto também cuidava da família.
Agora, ela simplesmente quer um tempo para ela mesma. É a eterna questão do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, para muitas mulheres.
"Eu tinha que trabalhar e cuidar das crianças. A única pessoa que eu podia negligenciar era eu mesma", diz Ho. "Um homem da minha idade recusaria essa proposta? Homens, quando são jovens, não precisam dar tanto deles mesmo, porque a tarefa de tomar conta das crianças não recai sobre eles. Para muitos homens, o trabalho é a vida deles."
Mesmo assim, é tão natural ver mulheres na política em Taiwan que falou-se pouco do gênero de Tsai, a futura presidente.
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Image captionDiscussões no Parlamento de Taiwan ficaram famosas
Mas, observando de perto, fica claro que cotas estão por trás dos relativos altos percentuais de mulheres na política em Taiwan. As regras eleitorais determinam que metade dos assentos reservados para as listas dos partidos mais votados devem ser preenchidos por mulheres.
Para es eleições distritais , essa cota para uma em cada quatro cadeiras nos conselhos locais.
"Está na Constituição que deve haver posições especiais para mulheres. Apenas países escandinavos adotaram políticas semelhantes. É certamente único na Ásia e em outras partes do mundo", diz Joyce Gelb, professora baseada em Nova York que estudou participação política as mulheres em Taiwan.
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Image captionGabinete de 2013; partido disse que teve dificuldades em indicar mulheres
Outros fatores ajudaram: o compromisso com a representação feminina mesmo nas primeiras décadas de existência da República da China (nome oficial de Taiwan), uma história de ativismo feminino, assim como uma sociedade com muitas mulheres educadas e profissionais que podem assumir posições de liderança, dizem pesquisadores.
Ao longo dos anos, o número de mulheres no Legislativo ultrapassou a cota, levando algumas pessoas a argumentarem que ela não seria mais necessária.
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Image captionContituição reservar vagas para mulheres no Legislativo
Mas o fracasso de Tsai em colocar mais mulheres no gabinete mostra que as cotas ainda são úteis para equilibrar a balança. Em eleições sem cotas, como para prefeito ou magistrados locais, a porcentagem de mulheres eleitas é de cerca de 15%. E há bem menos candidatas mulheres do que homens.
"Quando é uma disputa um a um, os homens tendem a se sair melhor por causa da sua experiência e conexões pessoais. Ainda não criamos as mulheres para ir para a política e o governo", diz Chen Man-li, diretora de uma aliança de grupos de mulheres e legisladoras recém-eleitas.
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Image captionApenas 4 membros do novo gabinete são mulheres
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Image captionEx-ministra da economia Ho Mei-yueh disse que deixou sua prórpia vida de lado quando trabalhava para o governo
Grupos de mulheres dizem não ter dúvidas de que ter mulheres na política faz diferença: é mais fácil aprovar lei favoráveis a mulheres, incluindo licença maternidade e cuidados de crianças.
Nathan Batto, pesquisador da Academia Sinica que estudou participação de mulheres na política, diz que, com cotas, os partidos dão mais atenção ao treinamento e desenvolvimento de mulheres na política.
Mas o maior desafio ainda é mudar a visão da sociedade para tornar possível que mulheres entrem e, mais importante, continuem na política, e com isso voltamos à questão do equilíbrio vida pessoal-trabalho.
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Image captionPesquisador diz que mulheres precisa de apoia da família para entrar na política
"Mulheres enfrentam muitos obstáculos que os homens não enfrentam ao desenvolver sua carreira política", diz Batto. "Elas precisam do apoio da família e do marido. A aprovação do parceiro normalmente é mais automática para homens que para mulheres."
Taiwan está muito a frente de outros países, mas vale a pena notar que nenhuma das quatro mulheres mais importantes na política de Taiwan são casadas ou têm filhos.
Fonte:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-36334714
Brasil, a lanterna no ranking de participação de mulheres na política
Atuação feminina em cargos do Executivo é abaixo da média mundial e deixa país em último lugar no continente americano
Ao longo dos últimos anos, o mundo vem presenciando um grito potente de mulheres que, em diversos países, clamam por igualdade de gênero. Em diferentes esferas, dos estádios de futebol ao ambiente corporativo, há uma luta pela reivindicação feminina dos espaços e para a garantia dos direitos já conquistados. A primavera feminista é vivida no Brasil desde 2015 e este parece ser um movimento sem volta.
Mesmo assim, a caminhada ainda será longa quando se trata do universo da política. Neste âmbito, o Brasil está na lanterna (161ª posição) de um ranking de 186 países sobre a representatividade feminina no poder executivo, atrás de todos os outros países do continente americano. Em primeiro lugar no levantamento, que analisou a evolução histórica da participação feminina no poder Executivo de 1940 até hoje, está a Nova Zelândia, seguida do Chile - onde a ex-presidenta Michele Bachellet acaba de terminar seu segundo mandato - e Reino Unido, que, assim como a Nova Zelândia, tem a rainha Elizabeth II no reinado desde 1952, além de Theresa May de primeira-ministra.
Na realidade brasileira, o levantamento fez um raio-X dos cargos ocupados por mulheres na esfera federal, estadual e municipal. Em relação às nomeações para cargos do alto escalão, em dez anos - entre 2005 e 2016 - a participação percentual delas nos ministérios cresceu apenas 4,5%. O número não considera a realidade atual, de apenas uma mulher - Grace Maria Mendonça, da Advocacia-Geral da União - entre os ministros. Enquanto isso, a média mundial de mulheres no primeiro escalão é 18%.
Já entre os chefes de governo dos Estados, o Brasil está praticamente parado no tempo. Hoje, há apenas uma mulher governadora: Suely Campos (PP), em Roraima. Isso significa que das 20 candidatas que disputaram algum governo do Estado na última eleição (2014), apenas uma foi eleita. Para se ter uma ideia, há 24 anos, quando o país ensaiava os primeiros passos do Plano Real, estávamos no mesmo patamar na quantidade de governadoras. A estimativa feita com o levantamento é que as mulheres só conseguirão ocupar metade das cadeiras ao governo do Estado no país em 2065. Isso se o ritmo de crescimento for mantido.
Nas secretarias dos governos estaduais, os homens representam 70%. Para Marlene Machado, diretora-executiva do Projeto Mulheres Inspiradoras, não somente a sociedade precisa estar atenta a esses números, como os partidos políticos tomar providências. “Os partidos devem ter um olhar diferenciado para esta questão”, diz. “Precisamos ter mulheres no comando, nas executivas dos partidos. As mulheres precisam ter vida partidária”.
Prefeituras
O exemplo mais recente do quanto os partidos não estão atentos à disparidade de gênero na política são os números das últimas eleições municipais (2016). Cerca de 68% das cidades sequer tiveram uma candidata à Prefeitura. O reflexo disso é que hoje, a cada dez municípios, somente um é administrado por uma mulher.
No recorte por raça, a disparidade é ainda maior: 61% dos prefeitos eleitos foram homens brancos. Apenas 1,5% homens negros e menos de 1% mulheres negras. Já no ranking por região, o nordeste é a que mais tem presença feminina no poder executivo: 16%, quatro pontos percentuais acima da média nacional. O Rio Grande do Norte é o Estado brasileiro que mais tem mulheres prefeitas.
A região também foi a que, na última eleição presidencial, mais votou nas candidatas à presidência mulheres - naquele ano, 2014, Dilma Rousseff (PT) tentava a reeleição e disputava, além dos candidatos homens, com Marina Silva (Rede) e Luciana Genro (PSOL). Segundo o levantamento, 83% dos votos válidos da região foram para alguma dessas três candidatas. O percentual foi puxado pela petista, que teve pouco mais de 78% dos votos válidos.
Até o momento, entre os pré-candidatos à presidência que já manifestaram suas candidaturas, há apenas duas mulheres, Marina Silva (Rede) e Manuela D’Ávila (PCdoB).
Direito ao voto
O ranking lembrou também a diferença de tempo entre o direito ao voto conquistado pelos homens e pelas mulheres nos países estudados. Embora não sejam inéditos, os dados são importantes para entender algumas realidades. Na Nova Zelândia, país que tem a maior presença feminina, por mais tempo, no poder executivo, o direito ao voto foi conquistado quase ao mesmo tempo para homens e mulheres. Em 1889, homens podiam votar e ser votados. Quatro anos depois, em 1893, o mesmo valia para mulheres. Já no Brasil, enquanto homens puderam votar e ser votados a partir de 1891, as mulheres só conquistaram este direito em 1932, 41 anos depois.
Fonte:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/27/politica/1522181037_867961.html
Antropológa Debora Diniz recebe prêmio internacional por seu trabalho na área de igualdade de gênero
Colunista do EL PAÍS ganhou o Dan David Prize. “Se fui agraciada é porque sou uma brasileira na linha de frente da resistência à ofensiva contra os direitos das mulheres e meninas”
A antropóloga e colunista do EL PAÍS Debora Diniz venceu nesta quarta-feira o prêmio Dan David na categoria igualdade de gênero. A iniciativa, que existe desde 2001, reconhece pesquisas interdisciplinares que “quebram paradigmas e fronteiras” em sua área, promovendo “impacto social e cultural”. “Estou emocionada com esta honra. Sou a segunda mulher da América Latina a receber este importante prêmio acadêmico”, escreveu a antropóloga no twitter. “Agradeço a todas as mulheres que eu conheci ao longo da minha carreira de pesquisadora. É alentador saber que a luta pelo aborto no Brasil é central à igualdade no mundo”. Diniz dividiu a honraria de um milhão de dólares (ou 4,7 milhões de reais) com a professora indiana Gita Sen, que atua na área de empoderamento econômico da mulher.
“Foi com emoção que recebi a notícia do Dan David Prize. Há muitas pesquisadoras globais sobre o tema da igualdade de gênero. Se fui uma das agraciadas, neste momento, é porque sou brasileira, uma mulher latino-americana na linha de frente da resistência à ofensiva autoritária contra os direitos das mulheres e meninas. É, assim, que o prêmio me anima a criar mais, a me dedicar ainda mais na defesa da democracia no Brasil”, disse ela ao jornal.
Ao longo de sua carreira acadêmica, antropóloga sempre buscou qualificar o debate sobre o aborto, procedimento que, segundo levantamento do Anis, foi realizado por uma a cada cinco mulheres de até 40 anos. Entre 2016 e 2017 ela se tornou figura central nas discussões sobre interrupção da gravidez em um momento no qual o Supremo Tribunal Federal discutia o assunto: Diniz defende o aborto até a 12ª semana de gestação.
A professora também é autora de vários livros, dentre eles Zika: do sertão nordestino à ameaça global (Editora Civilização Brasileira), pelo qual recebeu o prêmio Jabuti na categoria Ciências e Saúde.
Além de Diniz e Sen, Lonnie G. Bunch III e Barbara Kirshenblatt-Gimblett foram reconhecidos na categoria passado, pela conservação e recuperação cultural da história dos judeus poloneses. Demis Hassabis, fundador da companhia DeepMind, e Amnon Shashua, da empresa Mobileye, levaram na categoria futuro, por trabalhos na área de inteligência artificial.
Fonte: