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Número De Calouros Em Cursos Superiores A Distância Vai Superar O De Presenciais Em 2022
CORONAVÍRUS: NÚMERO DE CALOUROS EM CURSOS SUPERIORES A DISTÂNCIA VAI SUPERAR O DE PRESENCIAIS EM 2022
Projeção foi revelada por pesquisa que aponta a queda de emprego e de renda da população como os principais fatores para mudança
Célia Costa
11/06/2020 - 08:16 / Atualizado em 11/06/2020 - 08:31
Aluno estuda de olho na tela do celular na modalidade de ensino a distância Foto: Agência Brasil
A pandemia do novo coronavírus, fez com que acelerasse a projeção do aumento do número de alunos do Ensino Superior estudando na modalidade a distância (EAD) já em 2022 - um ano antes do que estava previsto no estudo feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), em parceria com a empresa de pesquisas educacionais Educa Insights. Assim, conforme a projeção, o número de calouros em cursos superiores a distância vai superar o de presenciais.
Entre os fatores apontado pela mudança estão a queda do índice de emprego e renda da população brasileira causado pela Covid-19. No cenário econômico, a previsão é de retração de 8% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 2020, conforme previsão do Banco Mundial.
Além disso, o aumento da oferta de cursos de graduação 100% online ou híbridos, em que parte é feita virtualmente, vai atrair mais alunos a cada ano, principalmente por apresentarem custos menores. Na análise de Celso Niskier, diretor presidente da ABMES, a mudança pode apontar a inclusão de pessoas de camadas mais vulneráveis no Ensino Superior.
O aumento da adesão aos cursos de ensino a distância já tinha sido percebido em 2019, quando ultrapassou a presencial em número de novas matrículas. De acordo com o último Censo da Educação Superior, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), em 2018 as duas modalidades já apresentavam uma diferença de apenas 243 mil matrículas. No entanto, o agravamento da situação econômica vem provocando um crescimento exponencial da EAD, que possui mensalidades bem mais acessíveis que os cursos presenciais, além de maior flexibilidade para conciliar trabalho e estudo.
A estimativa é de que em 2019 o número de novas matrículas em EAD tenha ficado em cerca de 1,66 milhão, enquanto a modalidade presencial teve 1,48 milhão. A expectativa é de que os dados sejam confirmados com a divulgação do Censo da Educação Superior 2019, previsto para ocorrer em outubro deste ano.
Para fazer a projeção, o estudo desenvolveu uma metodologia baseada em históricos recentes para projetar o mercado de educação superior no curto, médio e longo prazos. Foram consideradas as variações dos indicadores entre os anos de 2014 e 2015, que apresentaram aumento de taxa de desemprego, e entre os anos de 2017 e 2018, que registraram queda na taxa de desemprego no curto prazo. O levantamento faz parte da terceira etapa da pesquisa que mede os impactos da pandemia da Covid-19 no ensino superior, que teve início no mês de março.
“A mediação tecnológica na educação é uma tendência mundial, da qual o Brasil também faz parte. Nossas estimativas anteriores, baseadas em indicadores econômicos, sociais e demográficos, apontavam para a inversão entre o número de alunos do presencial e EAD somente em 2023. No entanto, tivemos alterações socioeconômicas significativas, que ao que tudo indica, anteciparam em um ano esse processo. Principalmente se pensarmos em três anos seguidos (de 2019 a 2021) com um número maior de matrículas no EAD, além de mais alunos que optaram pelos cursos presenciais se formando no mesmo período. Na prática, o que estamos vivenciando é a tecnologia possibilitando a inclusão das camadas sociais mais vulneráveis no ensino superior”, afirma o diretor presidente da ABMES, Celso Niskier.
A pesquisa, que ouviu 1.607 pessoas, entre estudantes e pessoas que pretendem ingressar no ensino privado superior pelos próximos 12 meses, mostra que 94% dos estudantes querem dar continuidade aos estudos, independente dos impactos provocados pela pandemia. O percentual é bastante parecido com a primeira e a segunda etapa da pesquisa — sem o cenário da pandemia —, na qual houve variação de apenas três pontos percentuais. Entre os estudantes das modalidades presencial e a distância (EAD), é possível perceber a elevação do risco de continuar estudando. Nesta edição, 47% dos estudantes presenciais apontaram riscos de desistir do curso em função da pandemia.
Assim como nas etapas anteriores, a principal preocupação dos estudantes atuais é com a manutenção do emprego e da renda. Quando perguntados sobre os principais fatores que poderiam acarretar na interrupção dos seus estudos, 60% dos estudantes apontaram para a perda de emprego como fator determinante.
O fechamento de empresas e comércios em função do isolamento social imposto pela Covid-19 afetou o rendimento de parte dos alunos, como mostra a pesquisa. Quando perguntados sobre este tema, 60% afirmaram não ter sofrido impactos significativos com a pandemia. No entanto, 22% informaram ter perdido o emprego em função da crise. No levantamento anterior, esse percentual era de 20%. O índice de demissões relatadas foi alto, porém, mesmo assim, somente 11% deste total informou que pretende deixar ou já deixou o curso.
Diante dos impactos provocados pela pandemia, a pesquisa quis saber também por até quanto tempo os alunos acreditam que podem continuar pagando suas mensalidades sem dificuldades financeiras. Mais de um terço deles (41%) disseram que ainda não conseguem mensurar quanto tempo, mas acham que poderão ter problemas em algum momento. Outros 30% disseram que conseguem pagar sem nenhum problema pelos próximos três meses. Este indicador foi o que sofreu maior variação em relação à segunda onda da pesquisa, que registrava 40%.
Falando especificamente das mensalidades do mês de maio, 70% dos alunos disseram que realizaram o pagamento, ainda que fora do prazo de vencimento. No entanto, 14% deles informaram que ainda não efetuaram o pagamento não sabem quando poderão fazê-lo. No mês passado, apenas 7% dos entrevistados estavam nesta situação, conforme mostra a figura número dois.
Entre os estudantes que enfrentam alguma dificuldade para honrar com o pagamento da sua mensalidade, 42% informaram ter recebido algum tipo de auxílio por parte da instituição de ensino onde estuda para se manter no curso. Desses, 34% disseram que a instituição ofereceu um plano de pagamento individual, enquanto que 66% foram atendidos em programas de facilitação do pagamento das mensalidades coletivos.
Quanto ao grau de satisfação dos alunos com as condições de auxílio ofertadas pelas instituições, 61% dos estudantes que receberam auxílio exclusivo avaliaram positivamente a medida. Já entre os estudantes que foram atendidos pelos programas de auxílio coletivos, os chamados planos horizontais, o grau de satisfação foi de 21%.
Após 76 dias do início do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 no Brasil, mais de 80% das instituições de ensino superior particulares do país migraram suas atividades presenciais para aulas remotas. As outras 18% preferiram optar por suspender as aulas ou o semestre, conforme o gráfico 1.
Dentre as instituições que migraram suas atividades para o ambiente virtual, 91% delas já desenvolvem suas atividades de forma síncrona, a chamada “aula ao vivo”, ou assíncronas (gravadas). Ao analisar o percentual de estudantes que estão tendo aulas exclusivamente ao vivo, o número chega a surpreendentes 63%. Outras 28% utilizam tanto o formato simultâneo quanto atividades assíncronas. Enquanto que 9% utilizam exclusivamente o formato assíncrono, que é usado tradicionalmente na modalidade de Educação a Distância (EAD), conforme gráfico número 2.
A terceira etapa do levantamento “Coronavírus e Educação Superior: o que pensam os alunos e prospects” foi realizado virtualmente entre os dias 28 e 31 de maio, com homens e mulheres, de idades entre 17 e 50 anos, pertencentes às classes sociais A, B, C e E. Foram ouvidos 644 alunos de graduação, matriculados em cursos presenciais ou EAD de instituições particulares, há pelo menos 6 meses. Também foram entrevistados outros 963 potenciais alunos que tenham interesse de início em cursos de graduação presencial ou EAD em faculdades privadas nos próximos 12 meses.
Segundo dados do Censo da Educação Superior de 2018, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), o segmento é responsável por 93,4% da oferta de educação superior do país, considerando as modalidades presencial e EAD.
Quanto às matrículas nas instituições de educação superior (IES) particulares, em 2018 o segmento foi responsável por 70,2% de todas as matrículas realizadas em cursos presenciais no país (4.489.690) e 91,6% das matrículas nos cursos EAD (1.883.584).