Por Fernanda Coutinho Santiago Quase sempre, o primeiro contato que temos com a arte é na escola, seja visitando um museu, seja frequentando as aulas de arte que fazem parte da grade escolar. Nessas classes, o indivíduo começa a ter as primeiras noções sobre os artistas, as coleções, os espaços culturais e museus. Por isso é tão importante que esse contato inicial com a arte seja estimulado de maneira prazerosa, instrutiva, preocupada com os conceitos que são ensinados, sem nunca esquecer de levar em conta o universo imenso e diverso que temos na área artística. Quando o aluno é incentivado a expandir seu modo de ver, de se expressar e de se comunicar através do que está sendo apresentado a ele, tanto nos museus quanto dentro da sala de aula, ele se torna um cidadão capaz de se conhecer e se reconhecer dentro da sociedade de uma forma muito melhor. A arte é uma construção social, por isso, definir um conceito único de arte se torna praticamente impossível. Ela possibilita a percepção individual de cada ser humano e, por ser quase um sinônimo de expressão de sentimentos, cada um percebe a obra artística de acordo com as próprias experiências de vida, criando um diálogo único com o que está sendo visto, ouvido ou sentido. Essa conversa permite que a arte ganhe um significado singular para cada pessoa, e é por isso que estimular desde cedo o contato com o universo artístico é tão importante.
Leia mais: Os desafios dos museus Quando olhamos para a cultura de modo mais amplo, como identidade de um povo que se reconhece como integrante de um país, através da arte, da dança, do cinema, da comida, do patrimônio cultural material e imaterial como um todo, e analisamos o Brasil, nos deparamos com um país novo, com uma história muito recente, se comparada a de outros países da Europa, por exemplo. Isso, aliado a outros fatores, pode causar perguntas como: O que podemos considerar uma cultura artística genuinamente brasileira, afinal? A vinda de estrangeiros, ao longo dos anos, em diferentes regiões do país, cada um com a sua própria cultura e modo de vida, pode ter causado certa dificuldade, para alguns de nós, na identificação do que é a cultura brasileira. Várias gerações já nascidas no Brasil, provenientes dessas etnias diversas, ainda se identificam com a origem de seus antepassados, adotando alguns aspectos dessas culturas e se sentindo mais parte delas do que do Brasil. Por sermos um país tão jovem, a nossa educação patrimonial é ainda muito precária, e o estímulo à arte também é tímido e limitado. Na verdade, nem sabemos direito que nosso patrimônio cultural pode ser um bem de natureza material imóvel, como cidades históricas e sítios arqueológicos, por exemplo, ou móveis, como acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Também são considerados patrimônio cultural, mas de natureza imaterial, práticas e domínios da vida social, como ofícios, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas e até mesmo celebrações. Além disso, há aqueles que acham que só o que é novo é bom e interessante, ou seja, tudo o que é de uma época passada é velho, sem uso, chato e ultrapassado. Isso, aliado ao senso comum cultivado por tantos de que museu só é lugar de “coisa velha”, causa um distanciamento e a baixa visitação aos espaços culturais. Quando o contato com a arte e museus de diferentes tipologias começa desde cedo, o indivíduo pode conhecer mais sabiamente o que lhe agrada e o que ele realmente não gosta, baseado nas próprias experiências e no acesso a informações que ele obteve. Por isso, o trabalho dentro da sala de aula é parte fundamental para a formação do senso crítico dos alunos, e os espaços culturais devem oferecer material informativo de qualidade a fim de que os professores trabalhem durante todo o ano letivo com suas turmas nas escolas, para que o ensino cultural não fique restrito ao que se aprende nas visitas aos museus, por exemplo.
Leia também: Museus e escolas: visitas orientadas O trabalho educacional, voltado para o patrimônio cultural, deve ser a base para o reconhecimento de cada um dentro de uma sociedade, pois leva a uma maior apropriação e valorização da memória coletiva e permite um melhor uso dos equipamentos culturais e das manifestações artísticas. Quando o indivíduo entende, pondera e colabora ativamente para a criação cultural, ele passa a se sentir representado e capaz de se apropriar de suas raízes, o que gera um impacto direto na preservação do patrimônio e um aumento na autoestima de uma comunidade. Deve existir um esforço social maior para inserir educação patrimonial de qualidade e atuante nas escolas, desde cedo. Assim, cresceríamos sabendo por que é importante preservar nosso passado, pensar no nosso presente, entender o nosso futuro, e valorizar nosso território e nossa arte, seja em que parte do Brasil for. Somos um país imenso e diverso, com muitas diferenças e semelhanças entre nossas regiões, e por isso, cada estado, cidade, bairro é único e deveria se mobilizar para entender e cuidar da sua história, para que se sinta valorizado e respeitado. A Federação de Amigos dos Museus do Brasil (Feambra) trabalha estimulando e organizando projetos de capacitação e educação para a sociedade, com o objetivo de incentivar a criação e gestão de Associações de Amigos de Museus. Quanto mais conhecermos nossa história e valorizarmos nossa arte e nosso patrimônio cultural, mais capazes estaremos de preservar nossas memórias e de construir novas.
Fernanda Coutinho Santiago, museóloga e consultora da Federação de Amigos de Museus do Brasil (Feambra)