Artigo
Pinóquio Às Avessas - Rubem Alves
A estória começa com Felipe ouvindo do pai uma estória antes de dormir. Seu pai o amava e acreditava que seu filho seria feliz se tivesse sucesso profissional através dos estudos. Por este motivo, o matriculou numa escola forte e cara, e Felipe começou sua trajetória de educação formal. No início, Felipe demonstrava sua curiosidade elaborando perguntas diversas, porém gostava mais de aprender sobre um assunto em particular, os pássaros. Felipe possuía interesse genuíno por estes animais, e estava intrigado quanto a um em particular, que era azul e comia mamão, cujo nome lhe era desconhecido. Com o passar do tempo, as pessoas a quem ele recorria para responder tais questionamentos, passaram a se preocupar com ele, pois acreditavam que ele estava focado nos pensamentos errados. Seu pai e sua professora acreditavam que ele deveria focar nos estudos da escola, para ter notas boas nas provas, passar de ano e posteriormente ser aprovado no vestibular e “ser” uma profissão. Conforme foi pressionado a crer que estava errado, deixou para trás aquela vontade de aprender sobre os pássaros e decidiu seguir as orientações recebidas. Estudou, se formou, tornou-se um profissional de sucesso, mas sentia-se triste e não sabia o porquê. O término da estória leva a crer que ele não se sentiu plenamente realizado no fim da vida, por não ter sido fiel aos interesses que faziam parte de sua essência. Ao longo do livro, o autor propõe, através da interação de Felipe com os demais personagens, que na cultura disseminada pela abordagem tradicional, todos pertencem a um sistema pré-existente e que se alguém não seguir às regras deste, estará fadado ao fracasso. É importante ressaltar que o Rubem Alves não nega a eficácia da abordagem pedagógica tradicional. Ao mesmo tempo, a obra nos remete a ideia de que esta abordagem tradicional transmite um conhecimento modelado por pessoas do governo gerando uma população repleta de alienados quanto ao próprio potencial. Nota-se que quando Felipe questiona o sistema, ele é respondido de forma comum, como se as pessoas ao seu redor estivessem programadas para agir daquela maneira inconscientemente. Esta mensagem é reforçada pela frase: “As escolas existem para transformar as crianças que brincam em adultos que trabalham.”, e pelo trecho em que Felipe compara a campainha da escola com o botão do controle de canais da televisão. O autor sugere sutilmente, ao longo do texto, que a abordagem ideal seria a construtivista, conforme proposto por Piaget e Vygotsky. Esta, por sua vez, permite que o professor forneça ao aluno estímulos necessários para evoluir naturalmente, a seu tempo, conforme suas vontades puras e habilidades natas. Rubem Alves, inclusive, faz uma menção de Picasso, Dali e Chagal, que agiram de forma diferente do tradicional e obtiveram notório reconhecimento por seus resultados. Conclui-se que esta obra esclarece perfeitamente as principais características e possíveis consequências do ensino tradicional, que não respeita a individualidade do ser humano, sendo inflexível e modelador. O método foi personificado pela personagem representada pela professora que ensina o que está no programa somente porque está lá, fazendo-se útil pelo repasse de informações. Esta subordinação alienada substitui a originalidade por programação humana, torna os comportamentos previsíveis, sendo a escola, de fato, uma fábrica de pessoas com pensamentos e ações controláveis. Felipe não entendia como um número poderia mensurar o quanto uma pessoa sabe, tampouco, eu.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Graduada em administração, técnica em recursos humanos, membro e diretora dos grupos de estudos da ABRH regional baixada santista, atua desde 2008 na área de gestão de pessoas como recrutadora, selecionadora e facilitadora de treinamentos. TEXTO PRODUZIDO POR Beatriz Minte de Almeida
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